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Ultimamente tenho andado com a vista cansada. Deve ser das lunetas...
Na imagem: Noddy, Lord of the Darkness.
Pelo que parece, os gregos estão a limpar um túnel antigo que liga o parlamento helénico com o porto de Piraeus para que os parlamentares possam escapar da fúria popular caso se dê uma eventual invasão do parlamento esta quarta-feira, o dia em que o novo pacote de austeridade será discutido pela assembleia grega. Enfim... ao que chegámos...
Álvaro Santos Pereira em Desmitos (dias antes de tomar posse como ministro).
Gostaria de saber se existe uma dimensão da sociedade Portuguesa totalmente virgem e impoluta, com as mãos limpas, que não praticou o jogo das amizades e favores, das trocas e baldrocas. Começo a ficar farto dos intelectuais e artistas (opinion makers, comentadores, jornalistas, editores, académicos e escritores, entre outros) que batem que se farta nos "outros" (como se existissem os outros!), mas que esquecem que fazem parte do sistema, que nasceram a partir dessa matriz de poder, e que são parte do problema - farinha do mesmíssimo saco. Se é para desconfiar de tudo e limpar a casa, então que nenhuma divisão fique esquecida. O conceito de "intocável" não pode servir os intelectuais. Eles não pensam...eles não pensam por nós. Diria que com o andar da carruagem e com tantos fantasmas a sair dos armários, estão com medo, apavorados. Aposto que em breve os podres serão descobertos, destapados com a mesma vulgaridade com que se deseja "sanitizar" os meandros da economia e das finanças. A revolução tem de ser justa e abrangente, repartida irmãmente pela rapaziada. Para que se possa recomeçar sem vestígios da patologia. Da doença que não escolhe as vítimas.
O debate da "refundação do acordo de entendimento" reveste em si próprio um aglomerar de controvérsias.
Concordo em parte com João Távora José Mendonça da Cruz, quando ele defende que os jornalistas estão a ser, em certa parte, parciais. No entanto, o slogan "refundação do acordo de entendimento" reveste em si próprio um conjunto de interpretações dúbias que dão a entender que o governo quer rever o memorando ou até mesmo, renegociá-lo. E este é o maior erro que quem nos governa poderia ter feito, pois dá a possibilidade do maior partido da oposição se desmarcar do que foi assinado em Maio 2011. Marcelo Rebelo de Sousa já o tinha dito no domingo passado.
Quem assinou o memorando, sabia perfeitamente-embora possa fingir que não o saiba- que a aplicação de grande parte das reformas inclusas no MoU-como é o caso dos cortes dos subsídios de férias e natal- implicariam mudanças [profundas] na constituição. Mas para mudar a constituição são precisos, pelo menos, 2/3 dos votos, ou seja, o parecer favorável de todos os partidos com assento parlamentar que assinaram o MoU.
Até aqui estamos entendidos. O problema é que governo e maioria parlamentar:
i) Se esqueceram que a "refundação" já deveria ter sido iniciada logo após o acordo de concertação social (Janeiro 2012).
ii) Perceberam tarde demais o significado do chumbo do Tribunal Constitucional (Julho 2012).
Tarde demais, pois o consenso social já estalou...
Numa altura de profundos constrangimentos orçamentais, e com os processos de consolidação a tornarem-se cada vez mais dificeis de conseguir devido à conjuntura económica totalmente adversa, torna-se necessário olhar cada vez mais para possíveis cortes profundos na despesa. Uma das rubricas que se fala onde pode haver cortes é nas PPP`s. No meu blog pessoal faço uma pequena dissertação sobre esta matéria. Vejam em http://ecoseconomia.blogspot.pt/2012/10/quanto-custam-as-parcerias-publico.html
Hoje vou-vos dar um pequeno exemplo para ilustrar o raciocínio matemático em termos lógicos.
Como escreveu Balhau no seu post “Anarco capitalismo...“, a matemática é regida por tautologias, axiomas e proposições (ou teoremas). Tendo como mote as recentes jornadas parlamentares do PSD/CDS-PP, em que Vítor Gaspar deu como exemplo, a maratona, lembrei-me de conjecturar a seguinte proposição:
Se 2+2=5, então Vítor Gaspar é Carlos Lopes, o maratonista.
Embora na realidade, a igualdade “2+2=5” seja sempre falsa, a proposição acima pode ser considerada como verdadeira. A explicação [lógico-matemática] é muito simples:
Convencidos?
Adenda: Concordo com a “Proposição” de Vítor Gaspar [de ontem] nas jornadas parlamentares PSD/CDS-PP, quando ele afirmou:
“O nosso grande desafio é mostrar em Portugal o que é possível, quais são as funções do Estado que são prioritárias, quais as funções do Estado financiáveis, qual o custo que está associado a essas funções do Estado”
No entanto, tal como o leitor é livre de colocar em causa a validade da igualdade “2+2=5” na proposição acima, eu sou livre de colocar em causa alguns dos cálculos inclusos neste Orçamento de Estado para 2013, que vão muito para além do erro na questão dos multiplicadores de austeridade.
Falo-vos por exemplo da subvalorização [em excesso] do preço do barril de Brent assim como não se ter feito qualquer correlação entre as oscilações do preço do Brent e a procura de metais preciosos, como activos de último recurso [em período de deflação].
Uma melhor precisão de cálculo poderia poupar p.e. aos consumidores um aumento mais suave nas tarifas energéticas a praticar pela EDP (p.e. o imposto cobrado pela EDP para produção de energias renováveis).
Em suma, é função do estado p.e. assegurar que empresas como a EDP não usurpem dinheiro, em demasia, aos consumidores. Faz parte do seu poder regulador.
Hoje, ao par do Caleidoscópio-blog colectivo criado há cerca de um mês-consta também nos destaques do Blogs Sapo um novo blogue colectivo-365 forte, que irá constar [a partir de hoje] na lista de links deste estabelecimento.
Os maiores sucessos para todos os autores deste blog. Pelo título e pelos conteúdos que já tive oportunidade de ler, este promete ser agridoce q.b.
Retomo sempre, quando leio sobre a crise européia, às questões técnicas do sistema financeiro internacional.
Para que haja estabilidade econômica num país há que se ter um sistema financeiro saudável, funcionando dentro de regras de segurança, liquidez e controle dos bancos centrais na função de supervisores.Essa é regra básica de macroeconomia.
O nó górdio da questão financeira e econômica, hoje, está no sistema financeiro que por estar a destoar das regras básicas de equilíbrio e segurança, do contrário,todo o sistema rui e desequilíbrio se instaura e sua propagação perniciosa se faz sentir em todo o mundo capitalista.
As regras de supervisão bancária devem ser seguidas como um norte a indicar o comportamento dos bancos, que devem atrelar suas atividades ao que já foi orientado pelo BIS- Bank for International Settlements, uma espécie de “Banco dos Bancos”.
Em Portugal, essa função cabe ao Banco de Portugal.
Crises sucessivas no setor bancário, havidas em passado longínquo deram origem à necessidade de supervisão bancária.
As regras de supervisão tem sua remota origem no Banco da Inglaterra havido como exemplo para o sistema no século XVIII. Assim, a implementação do Bank Act de 1844, que limitava o valor da moeda dos outros bancos, passou a exigir fosse mantida reserva em ouro contra a emissão de notas, e obrigar, se assim o exigisse o cliente, que fossem apresentadas moedas de ouro contra apresentação das notas. Nesse passo, foi importante para cunhar o estatuto de banco central ao Banco de Inglaterra.
Diante dessa necessidade crescente, até o final do século XIX, quase todos os países da Europa possuíam banco central a funcionar como supervisor do sistema.
Retomando o tema, estabilidade e crescimento como já dito, supõem um bom estado de saúde do sistema financeiro. Na ausência dessa robustez, quaisquer pequenos choques negativos provenientes do setor não-financeiro, têm sua propagação disseminada pela inconsistência nas relações e comprometimento do setor motivada por instituições financeiras debilitadas.
Adotar medidas de política monetária num país e que tenham alcance efetivo, exigem performance decorrente de influências sistêmicas saudáveis na órbita financeira.
O Índice de Basiléia, ou seja, a proporção entre o capital das instituições financeiras e o valor de seus ativos ponderados pelos correspondentes riscos, é um indicador chave da resistência a choques.
Mas existe uma realidade, que tenho observado entre alguns pesquisadores portugueses que está a demonstrar fragilidade no setor, ante o não cumprimento das regras básicas ditadas pelos sucessivos planos da Basiléia. Há estudos de que a incidência por tal não cumprimento em Portugal revela-se superior aos valores indicados para outros países, com impacto negativo sobre os requisitos, por exemplo, de fundos próprios e as condições de financiamento das empresas.
Vilma Muniz de Farias
Advogada
Ultimamente torna-se insuportável ouvir ou ver qualquer tipo de notícias tanto na tv como na radio, as pessoas são bombardeadas constantemente pelas dificuldades da vida que não conseguem ter tempo para ouvir outros que parecem que vivem uma realidade paralela. As estacões de televisão em tempos tinham programas de stand-up comedy que ajudavam os serões a serem mais leves e no entanto nessas alturas não se podia dizer que a sociedade estava tão estrangulada como agora, esta seria sim a altura de apostar em conteúdos que chamassem as pessoas ao écran e não o contrario. Não precisamos de programas como alguns da Rtp que pretendem debater os problemas da sociedade mas já se tornaram tão previsíveis que dá a impressão que são nada mais do que uma caixa de ressonância do sistema. Esta é a altura ideal não só de reinventar a roda sobre o ponto de vista empresarial mas também sobre o ponto de vista comunicacional, onde está o humor que brinca com a sociedade e com todos os defeitos que ela tem ? De certo que se houvesse uma nova atitude seria tudo mais fácil, ou as estacões de televisão só utilizaram o humor quando lhes dava jeito deitar abaixo um governo se um certo senhor que está em Paris ?
Sempre tive animais de estimação em casa. São uma óptima companhia e camaradas que tornam o caminho mais plano e suportável. Também por isso, temos obrigação de os tratar dignamente. Não faz sentido outro tipo de comportamento. Mas numa sociedade egocêntrica e com indivíduos cada vez mais solitários, os exageros deixam de ser meras excepções. Devemos proteger e respeitar os animais, a natureza e o sistema ecológico que nos rodeia. Mas daqui ao extremismo absurdo do que nos rodeia, é caso para sublinhar que se calhar vivemos mesmo numa nova Idade Média do pensamento e do comportamento humano.
O que me surpreende é que, mesmo não acreditando na alma, o ser humano não pode ser cientificamente comparado a um animal. Aliás, nunca entenderei as pessoas que devotam a vida a proteger animais quando há seres humanos a morrer devido à ignorância e maldade; nunca entenderei quem compra comida gourmet para animais de estimação quando há crianças a morrer à fome ao nosso lado.
Posso compreender a pobreza de espírito que exalta o animal como novo deus, posso ter compaixão das pessoas que substituem o animal de estimação pelo companheiro ou filho que não têm a coragem de ter. Mas há um grande atestado de estupidez em formalizar a nova ideologia corrente que eleva o animal e teima em diminuir o ser humano na mesma proporção. Há uma coisa que um cão, ou qualquer outro animal, tem e que nós andamos a perder: o instinto de sobrevivência e de preservação da espécie.
JESUS CONTINUES
Tradução directa de "Jesus vai continuar"; autocolante apropriado para pára-choques de viatura no seguimento das eleições para a presidência de um clube de futebol.
Eu a 13.10.2012 : "ao consumir dou lucro aos patrões, dou trabalho a uns quantos empregados. Porque encontrando-me dentro de uma grande superfície, não me encontro na rua corromper a democracia. La Palisse se fosse vivo diria o mesmo."
Passos Coelho a 19.10.2012 : "É uma verdade de La Palisse que austeridade tem custos no crescimento e emprego."
Num artigo de 1949 da primeira edição da revista Monthly Review Einstein defendia o socialismo como receita para uma sociedade justa. Sempre ouvi dizer que a esmagadora maioria dos intelectuais é de esquerda, nada melhor do que Einstein para me comprovar. A fonte do artigo encontra-se no blog Why Socialim.
Leiam e assinem (caso concordem) a petição " Pelo jornalismo, pela democracia ", disponível em http://www.peticaopublica.com/?pi=P2012N30627.
Obrigado.
O Governo vem com a ideia peregrina dos combustíveis low cost, será que é para aumentar o emprego ou a mão de obra nas oficinas ? Vejamos estes combustíveis por não terem aditivos destroíem os motores dos automóveis, ou seja as pessoas passam a ir mais vezes à oficina.
Piadas com tios e tias de Cascais à parte, convém relembrar que Portugal, embora percursor da globalização através da epopeia dos descobrimentos, nunca teve depois disso um papel determinante na edificação europeia desde a criação da UE (ex-CEE). Nada a acrescentar portanto, a menos que o eventual vídeo pretenda relembrar que, tal como os nazis, nós também corremos com os judeus-os jesuítas-de Portugal, uns bons séculos antes. Os mesmos de quem Adolf se quis livrar uns séculos depois quando invadiu Bélgica e Países Baixos.
As pessoas têm razão ao quererem só levar futebol e casa dos degredos para casa, a verdade é que o que sobra não dá muita vontade de ver. Os políticos com a sua meta-linguagem não aproximam as pessoas até pelo contrario a mensagem de optimismo não existe parece que é propositada uma mensagem pessimista sem esperança.Será que os políticos têm interesse na industria farmacêutica de produção de antidepressivos ? Não há uma mensagem de esperança de luz ao fundo do túnel, será que só um ditador a pode dar ? Não precisamos de um Hitler que levantou o pais quando já ninguém acreditava em nada ... O problema é que caímos neste lugar comum da história da humanidade que nos pode sair caro, o povo português sempre idolatrou sebastianismos de onde Salazar o "Salvador da Pátria" foi um bom exemplo.
Precisamos de uma nova classe política não precisamos de um novo Salazar, precisamos de bons exemplos e não de mais do mesmo, se temos de aguentar com a austeridade exigimos rigor.
A nossa saturação já vai muito para além da austeridade e do “ que se lixe a troika”. Estamos mais que saturados dos discursos moralistas de Passos Coelho, das conferências enfadonhas de Vítor Gaspar, do patriotismo exacerbado de Paulo Portas, dos discursos parcos da oposição, da ataraxia de Cavaco Silva, assim como da inépcia de toda a classe política, em geral.
De uma minoria activa de descontentes, passámos a uma multidão furiosa encadeada pelos soundbytes da comunicação social, que tem semanas em que dispara contra governo e lobbies instalados, e outras em que nos tenta convencer que não há saída possível senão dar-se um passo em frente, mesmo sabendo que nos encontramos à beira de um precipício e que qualquer passo em falso pode significar a nossa desgraça.
Errar é humano. Persistir no erro não é sinal de inexperiência [governativa]. É sinal de estupidez. E é esse o caminho que o governo chefiado pelo incumbente Vítor Gaspar pretende seguir “custe o que custar”, ignorando por completo os relatórios recentes da ONU assim como os reptos vindos da directora e do economista-chefe do FMI.
A substituição do aumento da TSU aos trabalhadores pelo agravamento e progressão nos escalões do IRS resume-se a mais do menos. A um saque aos rendimentos das famílias, a uma morte anunciada da economia de retalho que vive às custa dos pequenos comerciantes e dos consumidores, ao aniquilar de hipóteses de investimento, tanto a nível interno como ao investimento vindo do exterior. Por mais que Álvaro Santos Pereira e Assunção Cristas tentem vender que este Orçamento de Estado tem medidas que visam ao potenciar do crescimento económico e ao estimular do empreendedorismo em áreas como a economia e a agricultura, uma coisa ficou clara para aqueles que já tiveram oportunidade de ler as linhas gerais do Orçamento de Estado para 2013. Quem vai pagar os devaneios de Santos Pereira, Cristas e dos restantes ministros [empenhados em fazer obra] não é o investimento replicativo. São os contribuintes.
Para um governo prestes a celebrar ano e meio no poder, que tenta empurrar com a barriga as responsabilidades deste orçamento de estado hostil para a anterior governação-ou para a “festa socialista”, como lhe chamou Álvaro Santos Pereira- mas que quer tributar à força bruta grande parte dos rendimentos dos trabalhadores e empresas, está também a seguir a via do socialismo. É o chamado socialismo capitalista, mais à esquerda do que o socialismo preconizado pelos partidos de esquerda como disse há semanas João Duque, actual presidente do ISEG, e que esteve para ser ministro das finanças deste governo, o que não deixa de ser icónico e irónico.
Só há portanto um antídoto contra toda a contestação social encabeçada por ex-ministros [das finanças], por ex-presidentes da república e conselheiros de estado. Fazer cedências e renegociar o orçamento, antes que a sede de vingança palaciana tome o lugar da fome por se fazer justiça nas urnas.
O problema não está na rua, no folclore das manifestações, nos arraiais de professores não-contratados, nas vigílias dos novos desempregos em frente às empresas que abriram falência. Está em quem é o responsável pelo cumprimento do memorando e que tem a obrigação de zelar pelo consenso social alargado, assim como de saber o que está [realmente] a fazer.
A decisão da maioria parlamentar-encabeçada por PSD e CDS/PP em aprovar este orçamento pode ser vir a ser criticada partidos da oposição assim como a ser alvo de chacota em praça pública.
Governo, maioria parlamentar assim como partidos da oposição têm a responsabilidade de fazer um esforço herculeano para equacionar todos os cenários possíveis. A confiança dos cidadãos nos seus políticos precisa de ser restituída para que o consenso social seja mais que um simples contrato de circunstância. Para bem de Portugal e dos Portugueses, este terá de ser fidelizado na sua plenitude por governo, trabalhadores, patrões e restante sociedade civil. Porque a nossa margem de manobra ainda é curta para se renegociar o que quer que seja com a troika num futuro não muito distante. É que a teimosia de Passos Coelho assim como a insensatez de Vítor Gaspar e dos demais, pode vir a hipotecar o futuro do país dentro e fora de portas [e de Portas].
O regresso anunciado aos mercados- já em 2013-será apenas o princípio da retoma para alguns, em especial das corporações que operam no PSI20- como são os casos da PT e EDP que podem emitir obrigações para se financiarem a médio e a longo prazo. Para os restantes, a retoma passa essencialmente pela estabilidade fiscal, pelo [hipotético] investimento estrangeiro em Portugal e pelo captar pequenos e médios aforradores como forma de fazer face ao corte de financiamento por parte da banca. Porque nos tempos que correm, aqueles que p.e. emigram acabam por levar consigo o pouco que lhes resta, e não fazem intenções de enviar parte dos seus rendimentos para Portugal. A livre circulação de capitais assim como a globalização têm destas coisas.
Já que falamos de banca, permitam-me que faça um pequeno parêntesis sobre Fernando Ulrich e sobre as suas declarações em entrevista ao programa De Caras [na RTP1]. Aqueles que criticaram e se escandalizaram com as declarações de Fernando Ulrich, que se mostrou disponível para “absorver” e dar formação a alguns dos desempregados nos quadros do BPI ao invés de ficarem em casa a viver às custas de prestações sociais, deviam ter-se comovido por Ulrich ser um dos poucos empregadores em Portugal que se mostra preocupado em dar uma oportunidade a todos aqueles que por aí se queixam que ninguém lhes dá uma oportunidade para mostrarem o que [realmente] valem. Isto sim, poderá ser uma forma de se evitar que os nossos melhores quadros saiam de Portugal!
Se fizermos um voto de penitência colectivo, chegamos à conclusão de que a capacidade de gerar empregos a curto e médio prazo está nas mãos de grandes empregadores como Fernando Ulrich. Recusar que pessoas como Ulrich tentem dar o seu contributo para potenciar o emprego em Portugal, começando pela formação de base, não será apenas um grande problema para governo, mas também um problema nosso. Porque ter de emigrar e nunca mais voltar não é traição à pátria. É desistir da pátria. E por cada jovem emigrante que parte para destino incerto, é menos um jovem trabalhador a assegurar a sustentabilidade do estado social- ou será que ainda ninguém reparou neste pormenor?
Faz hoje 25 anos que o índice Dow Jones sofreu a sua maior queda percentual num único dia da sua história.
Será a [recente] descida da cotação do Google, uma das notícias que paira de momento no seio de investidores, de jornalistas e até da própria empresa -que ordenou ao índice Nasdaq que suspendesse a sua cotação em bolsa- um sinal claro de que estamos próximos de mais uma "2ª feira negra"?
Link do capítulo integral do livro - Portugal Traduzido - edições Cosmos 2008.
Queria deixar aqui a minha propaganda a um filme muito engraçado que mistura loucura de faculdade, loucura de meia idade e ficção científica em doses de divertimento excessivas.
Recomendo
Eu sou daquelas pessoas que não respeita o acordo ortográfico, mas nem por isso deixa de acompanhar a vida do lado de lá do Atlântico. O Brasil tem uma comunidade de bloggers bastante activa a vários níveis, dos quais destaco humor, política e religião. Hoje vou abordar um tópico presente nos actuais debates entre bloggers. O tema é anarco capitalismo. Quem quiser informar-se um pouco mais sobre esta ideologia pode consultar a sua entrada na wikipedia (http://en.wikipedia.org/wiki/Anarcho-capitalism). Mas penso que podemos dizer, de forma resumida, que o anarco capitalismo é uma espécie de anarquia libertária, de anarquismo da propriedade privada. Devemos notar, evidemente, que quando falamos em anarquismo estamos a excluir o termo no sentido mais restrito já que uma forma absoluta de anarquismo impede qualquer tipo de ideologia dado que pela própria definição de anarquismo os próprios fundamentos dessa mesma ideologia não poderiam existir dado que por hipótese também estes teriam de ser anárquicos, um paradoxo portano. Restringimo-nos portanto a um anarquismo específico. Um anarquismo que significa na prática completa ausência de regras e respectivas entidades reguladoras para as relações comerciais. Esta ideologia identifica o papel do estado como algo desnecessário. As responsabilidades estatais passam, ao abrigo desta forma de pensar, para a chamada soberania individual. Onde cada um é responsável por si numa sociedade regida exclusivamente pelas regras do livre mercado. Na presente ideologia os tribunais e os agentes da lei eram serviços disponibilizados por entidades privadas concorrentes. Desta forma o seu papel "nesta nova" ideologia não desaparece mas é, ao invés, ajustado em termos de responsabilidades para grupos privados concorrentes. Para que esta filosofia possa funcionar harmoniosamente há alguns postulados dentro dos quais realço para o princípio da não agressão. Este axioma, num contexto definido por Murray Rothbard, diz o seguinte: "Qualquer homem é proprietário de si mesmo, tendo jurisdição absoluta sobre si mesmo. Como consequência ninguém poderá invadir ou agredir qualquer direito detido por outra pessoa" Este axioma é essencial para a aplicabilidade das ideias anarco capitalistas. Agora deixem-me fazer um pequeno intervalo e reflectir um pouco sobre a ideia de Axioma. Axioma é o conceito basilar nas ciências exactas, com grande ênfase na Matemática. O que é que a matemática define como axiomas? Num contexto matemático um axioma é um conceito que não pode derivado de um outro e que é ao mesmo tempo elementar trivialmente aceite por todos. Qual a sua importância? Todos nós sabemos que a lógica é a melhor ferramenta na produção do conhecimento. No entanto a inferência lógica sofre de uma patologia grave. É recorrente. Que quero dizer com isto. O problema da lógica, num sentido lato, consiste numa propriedade intrinseca presente na sua metodologia. Na prática o que sucede é o seguinte. Quando nos propomos a demonstrar uma ideia C nós recorremos às ideias A e B e, juntamente, com o exercício da lógica encontramos um caminho até C. O problema surge quando nos perguntam acerca de A e B. Para demonstrarmos A e B temos de recorrer a ideias Aa Ab, Ba, Bb que demonstrem respectivamente A e B. Como podemos ver isto leva-nos a uma regressão infinita que nos impossibilita em última instância de construir qualquer conhecimento. Como resolver este problema? Muito simples criamos axiomas. Os axiomas são ideias A, B, C que não admitem regressão. Ou seja são aceites como proposições válidas de uma forma universal. Agora que introduzimos o conceito Axioma de um ponto de vista matemático conseguem-me dizer porque o axioma da não agressão nunca poderia constituir um axioma matemático? Estão correctos. Porque não é, na prática, uma ideia universalmente válida. Porque a história nos demonstra que a agressão é uma propriedade presente na natureza humana e que desta forma não a podemos simplesmente reduzir a um axioma. Ela falha na propriedade "universalmente válida". Sabemos agora que o axioma presente na ideologia anarco capitalista não é um axioma matemático. Aqui devemos lembrar o famoso trabalho de Gödel. Gödel conseguiu demonstrar o seguinte:
Teorema 1:
"Qualquer teoria axiomática (conjunto de axiomas e suas derivações lógicas) recursivamente enumerável e capaz de expressar algumas verdades básicas de aritmética não pode ser, ao mesmo tempo, completa e consistente."
Teorema 2:
"Uma teoria, recursivamente enumerável e capaz de expressar verdades básicas da aritmética e alguns enunciados da teoria da prova, pode provar sua própria consistência se, e somente se, for inconsistente."
Consistência: Uma teoria axiomática diz-se consistente quando nela não é derivada uma contradição (paradoxo). Completude: Uma teoria axiomática é dita completa se para cada proposição P (da teoria) podemos deduzir P ou a sua negação. (o problema da consistência enumerado no segundo teorema é resolvido através da axiomatica de Zermelo Fraenkel) Ora estes dois teoremas datam de 1931 do trabalho de Gödel intitulado "Sobre as Proposições Indecidíveis" acabando por colocar um término na proposta de Hilbert em obter uma construção universal matemática a partir da axiomatização e lógica formal. O que é que isto tudo tem a ver com o princípio da não agressão e do anarco capitalismo. Bastante. A compreensão do estudo de Gödel obriga-nos ao cepticismo relativamente à existência de teorias capazes de explicar tudo com um conjunto infinito (recursivamente enumerável) de axiomas. Para além disso, e como já vimos, o axioma da não agressão, não é propriamente um axioma no sentido estrito. É de esperar portanto a existência de um vasto conjunto de paradoxos derivaveis a partir daqui. Vejamos alguns exemplos então.
Paradoxo 1: Se por definição não é possível a existência de agressão entre os direitos de propriedade privada entre os didadãos A e B pertencentes a uma sociedade anarco capitalista. Para que servem, então, os respectivos tribunais.
Paradoxo 2: Se por definição não é possível recorrer à violência para resolver os problemas entre os cidadãos A e B. Como asseguram as entidades de autoridade que o cidadão A cumpra uma determinada pena se este não estiver disposto a fazê-lo sem recorrer à violência? Se não recorre à violência será então que podemos dizer que existem forças de segurança?
Esta reflexão pretende então a enumerar as limitações existentes quando nos propomos a traduzir a realidade através de axiomáticas. Não quero com isto dizer que é tempo perdido. Não é. Há teorias consistentes, basta para tal que não sejam recursivamente enumeraveis, dito de outra forma que o conjunto de axiomas seja finito. O problema é que em última instância a descrição do universo é recursivamente enumerável. Para tal basta imaginar uma criança que questiona recursivamente qualquer explicação que lhe seja dada. A grande lição que devemos aprender através do trabalho de Gödel e presente em praticamente todas as ideologias (desta vez foi o anarco capitalismo a servir de exemplo) é que estas não são consistentes. E fica como bom exercício identificar proposições A para as quais A => ~A, também conhecidos como paradoxos ou pontos de inconsistência de uma teoria axiomática.
Já que estamos numa de euros, gostaria de explorar os meandros de um caso enigmático. Um estranho dossier, um mistério complexo e sem aparente solução. Refiro-me à moeda. Não à moeda no sentido clássico; mas a moeda em si. A chapa ganha, a chapa gasta, o pequeno dinheiro que tilinta no bolso quando encontra companhia. Gostaria de saber porque razão o cidadão Português tem uma estranha relação com as moedas? Ou não as tem, ou não as deseja dar de mão beijada. Basta tentar pagar uma bica no café da manhã com uma nota de dez euros e o empregado dispara logo: não arranja uns trocos para facilitar? (facilitar o quê?) O mesmo acontece com o taxista que roda a chave para a primeira corrida do dia e não se equipa com munição adequada, e chegando ao destino nem sequer profere um vocábulo de jeito. Dá um grunhido porque o cliente estendeu a nota. É certo que não existe um dispensador em cada esquina, um multibanco-moeda, mas isso não serve de desculpa. Os comerciantes que preparem o dia seguinte de um modo adequado. Assaltem o mealheiro ou a caixinha de esmolas como se de um banco privado se tratasse. Um BPN dos pequeninos. E depois, ainda há um outro aspecto perverso. Paga-se a sande (gosto da palavra sande...parece que foi mordiscada no fim!) com uma nota de vinte e a outra empregada é mesmo mesquinha. Tem um prazer torcido em despejar uma quantidade invejável de moedas sobre o balcão de vidro e remata: desculpe, vai ter de ser tudo em moedas (pelo menos uma dezena de 10 cêntimos e muitas das outras!) Porém, ainda há outras dimensões que merecem ser interpretadas. O desapego nacional em relação à moedinha pode ter a ver com esse defeito nacional de querer ganhar tudo de uma vez. Será uma espécie de síndrome de Tio Patinhas ao contrário? Não entendo. Talvez pergunte ao próximo arrumador de carros que encontrar. Dos antigos. Porque alguns dos mais novos só aceitam notas.