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Teorema de Pitágoras. Para que é que isso interessa?

por Balhau, em 14.10.12

Tive o desprazer, recentemente, de assistir a este vídeo.

 

Confesso que foram algumas as perguntas que despoletaram no meu adormecido subconsciente. Em primeiro lugar como é que uma personagem destes tem direito a tempo de antena. Como é que em Portugal é permitido alguém opinar sobre problemas da nação quando nem sequer o teorema de pitágoras sabe na sua forma mais elementar. Entender-se-ia se estivessemos a falar da sua generalização sob a forma de teorema Fermat-Wiles. As palavras que merecem devida reflexão devido à sua gravidade são as seguintes.

"Na questão dos exames tudo normal. Agora o que eu pergunto é o seguinte. Eu compreendo a carga horária para a disciplina de português, agora a carga horária para matemática? O que é que na tua vida te interessa o teorema de Pitágoras, ou a soma dos.. catetos e o pi ao quadrado... Desculpa formação base é como a história e geografia.. No teu dia a dia o que é que te interessa o teorema de pitágoras.. Desculpa o essencial da matemática tu sabes para o teu dia a dia... O que é que interessa ao médico estas coisas (da matemática) para ver um doente?"

Eu confesso que já há bastante tempo que não tinha a infelicidade de presenciar um conjunto tão vasto de imbecilidades num espaço tão curto de texto. Mas vamos responder ao senhor Mário Gouveia que vou designar daqui para a frente de o " Porta Bandeira da Ignorância" (PBI). Senhor PBI, vamos então assumir a sua hipótese. De que fracções, funções e restante matemática elementar não interessa a um médico. Sendo assim, digníssimo PBI, diga-me como pode um médico prescrever um medicamento, entender as quantidades a receitar e adaptar a mesma caso necessário quando não sabe fracções. Diga-me ilustre PBI como pode um médico entender o conceito de concentração de um determinado medicamento quando não sabe o que é uma fracção. Diga-me iluminado PBI como pode um médico analisar relatórios técnicos de fármacos quando não sabe aritmética elementar e portanto muito menos interpretar dados estatísticos. Caro PBI explique-me como me pode responder um médico quando lhe pergunto qual é a probabilidade de sucesso para a minha doença quando este não sabe fracções. Mas esqueçamos as fracções. Passemos então para o teorema de pitágoras. Caro PBI deixe que lhe responda à questão "que é que interessa o teorema de pitágoras?". Eu podia-lhe recomendar que falasse com um senhor que trabalhou comigo na minha infância. Era um mestre de obras e era bastante sábio. E sabe o que ele fazia com o teorema de pitágoras? Construia as estruturas que suportavam as massas de cimento. Calculava as quantidades de materiais a usar em função das dimensões da obra, entre uma miríade de outros pequenos problemas que a construção civíl apresenta. E repare este senhor é aquilo a que muitos chamam com descrédito "trolha". Pois é, um trolha (muito sábio diga-se) consegue identificar a importância do teorema de pitágoras mas o excelente PBI não tem tal capacidade. Mas não fiquemos por aqui. Sabe o que neste momento não funcionava sem o teorema de pitágoras? A televisão não existia porque processamento de sinal não passaria de um sonho. Mas sabe porque é que o procesamento de sinal não exisita? Porque nem sequer teriamos uma teoria física (matemática portanto) para descrever o electromagnetismo. E sabe porquê? Porque sem fracções o conceito de equação diferencial não existia. Sem o teorema de pitágoras o conceito ângulo não fazia o mínimo de sentido e o estudo das áreas pouco se teria desenvolvido. E sem área não temos integrais e sem integrais e equações diferenciais não temos equações do electromagnetismo de Maxwell. E sem teoria de electromagnetismo não temos forma de manipular a electricidade, e sem electricidade andamos a cavalo. E chamar-lhe cavalo, caro senhor, era um elogio que lhe fazia.
Mas não fiquemos por aqui. Sabe o que é preciso saber quando se gere uma empresa? Analisar tendencias. É verdade. Conseguir identificar a trajectoria micro económica que condiciona a evolução daquilo que nos propomos a gerir. E sabe, digno PBI, o que é uma tendência? Caro PBI uma tendência é uma derivada e com a sua hipótese também isto deixariamos de ser capazes de medir. Mais, sabe o que é igualmente importante quando pretende melhorar a sua situação de uma organização? O conceito optimização. E sabe, meu caro PBI, quem lhe dá os melhores métodos de optimização de problemas? A matemática, através de mecanismos de minimização de sistemas de equações entre outros métodos. E minimização meu caro PBI é, mais uma vez, uma questão de DERIVADAS. Caro PBI as suas palavras são graves. Mas não são as suas palavras que me espantam. São o facto de haver meios de comunicação que lhe dão voz em vez de lhe apresentarem uma carta de demissão. Grave é desperdicar tempo de antena com alguém que é manifestamente incapaz de entender o mundo que o circunda e ainda troça, tropegamente, dele como um débil mental que se ri da própria incapacidade de raciocinar. É manifestamente triste quando a RTP que tem como objectivo o serviço público se digna a dar voz a um energúmeno desta dimensão. RTP, da próxima vez que não souberem o que fazer com o tempo de antena coloquem futebol. Sempre é menos nocivo.

 

Este texto não foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico.

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publicado às 23:08

As exportações e a nossa capacidade competitiva

por Ricardo Gonçalves, em 14.10.12
Nos últimos dias, temos assistido a um debate sobre a sustentabilidade do aumento das exportações. Determinadas figuras da nossa praça têm dito que este aumento é meramente artificial, e que decorre de um conjunto de factores ligados à actual crise económica. É exemplo disso, o aumento da exportação de ouro, que nos primeiros 7 meses aumentou cerca de 201 milhões de euros.
Sim, é verdade que o ouro foi responsável por 8,3% do total de crescimento de exportações até Julho...

A comunicação social lançou recentemente este valor, e dada a minha desconfiança com as contas que por vezes os jornalistas fazem, resolvi confirmar este valor, tendo obtido exactamente o mesmo, pelo que posso confirmar com total segurança a fiabilidade deste valor.
Também se avisa que uma parte significativa do aumento também se deve aos combustíveis e lubrificantes, o que provoca um aumento da nossa dependência externa
Neste âmbito saliento também a veracidade deste facto, pese embora admita que uma parte dos derivados (produtos transformados do mesmo), possam ser úteis à nossa economia. No entanto, uma vez que não estou na posse de mais dados, não entro por esse ponto. Fazendo alguns cálculos, conclui que este agregado de produtos foi responsável por 31,53% do crescimento das exportações.
Assim, Ouro e combustíveis representam quase 40% do crescimento

Podemos dizer então que o crescimento das exportações é no fundo, uma grande falácia de competitividade?

De modo algum, retirando os dois agregados que referi atrás (ouro e combustíveis), ainda assim obtemos um crescimento das exportações de cerca de 6,2%. Por exemplo, a Alemanha registou até Julho um crescimento de 5,4%. Ou seja, mesmo retirando os factores que referi apresentamos uma boa competitividade. 
Mas ainda poderá sobrar um outro argumento...
Parte da explicação deste aumento de 6,2% a que chegamos poderá ter um novo muito concreto (isto segundo alguns) e chama-se AutoEuropa. Vamos ver se isso será verdade...? Nos primeiros 8 meses, registou-se um decréscimo de 11,4% na produção da empresa, pelo que este argumento esbate-se.
Os principais sectores estão a crescer em peso, apesar da crise...


1 - O crescimento acentuado do sector do calçado e do vestuário (na ordem dos 25%), e apesar de tudo, a pequena subida do têxtil;

2 - O forte crescimento do sector da maquinaria.
Há fortes indícios de uma modernização da estrutura exportadora, senão vejamos...

A maquinaria registou um forte crescimento, o que demonstra um evoluir da estrutura produtiva. Nota: quando consideramos também a produção de peças nesta área, chegamos a um crescimento mais acentuado, que ronda os 25%. Na área do Euro, o crescimento desta área é mais baixo, e mesmo agregando à mesma o sector automóvel, em que Portugal decresceu (por efeito da AutoEuropa), ainda assim ficamos a ganhar, tendo nós registado um crescimento de quase 10%, enquanto a área do euro 9%. 
O sector químico também registou um crescimento apreciável, na ordem dos 10,6% (ver quadro anterior), enquanto na zona euro o crescimento foi de 7%
Conclusão

Apesar dos eventos extraordinários que aconteceram fruto da crise, a verdade é que na maioria dos sectores exportadores tem-se observado um comportamento globalmente positivo (até mesmo acima da Área do Euro), e que não é fruto desses factores extraordinários. Assim, parece-me sinceramente que estamos a ganhar competitividade, sendo esse já um processo de alguns anos (desde 2006). 
Nota final: Este post também se encontra publicado no meu blog pessoal http://ecoseconomia.blogspot.pt/

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publicado às 19:28




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