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Ultimamente tenho andado com a vista cansada. Deve ser das lunetas...
Em vésperas de cimeira europeia e numa altura em que os governos dos estados membros da EU se preparam para iniciar a discussão em torno dos orçamentos de estado para 2013, começam a surgir como pano de fundo algumas declarações deveras interessantes, que fazem antever uma mudança de directório e de orientação política a nível europeu. Esta mudança, que vem a ganhar cada vez mais força após a vitória das presidenciais francesas por François Hollande que, num sentido figurado, colocou fim a um governo de Vichy 2.0 [encabeçado pela dupla Merkozy] dando lugar a uma cortina de ferro diplomática entre os países mais ricos do clube Med(iterrâneo)-França,Itália (e por vezes, Espanha)- e os países de rating triple A- Alemanha, Finlândia e Holanda.
Numa altura em que o FMI defende por um lado, que errou e por outro lado, que a austeridade tem de ser mitigada q.b., será pertinente colocar a hipótese da saída da Alemanha [Finlândia e/ou Holanda] da zona euro? Eu diria que é um cenário a ter em cima da mesa. Tentem perceber mais abaixo o porquê...
Caso tenham questões e/ou dúvidas pertinentes, deixem-nas na caixa de comentários.
“Há um perigo real do euro destruir a União Europeia. A forma de escapar a isso é a Alemanha aceitar um compromisso maior entre defender não só os seus interesses mas os interesses dos países devedores e desempenhar o papel da potência hegemónica benevolente” George Soros
"Não é possível, para o bem de todos, impor uma punição perpétua a algumas nações que já fizeram sacrifícios consideráveis se as suas populações não vêem, em momento algum, os resultados dos seus esforços" François Hollande
“O crescimento na Alemanha pode ser estimulado nesta altura com um aumento na procura doméstica mais do que através de qualquer outra coisa” Angela Merkel
Leituras Complementares:
No artigo "parar para pensar" publicado [hoje] no Diário Económico, o conselheiro de estado Vítor Bento tentou levantar um pouco mais de poeira em torno das mexidas na TSU (desvalorização fiscal), das quais destaco as seguintes permissas:
"Valia a pena discutir a descida da TSU, sem compensação, ou com uma compensação muito parcial. Isso abriria um buraco orçamental, mas se se acreditar que a acção impulsiona a economia, o seu resultado acabará por tapar o buraco ao fim de algum tempo(...)
É claro que isso precisa de mais financiamento e mais dívida, tornando mais difícil a sustentabilidade financeira. Mas esta também não se consegue com o desemprego a caminho dos 20%"
Quem se andou a divertir a estudar a hipótese de uma eventual desvalorização fiscal-como foi o meu caso-sabe que a única hipótese para compensar a subida da TSU aos trabalhadores, passaria por um aumento gradual do IVA. Esta hipótese é de descartar, pois ao contrário do OE 2012, o OE 2013 não prevê um agravamento do IVA do lado da receita.
Vítor Bento, mesmo sabendo que a dívida pública da República Portuguesa ronda os 120% do PIB, insiste na hipótese de nos endividarmos ainda mais, isto é, aumentarmos ainda mais, em percentagem do PIB, a nossa dívida pública como forma de compensar a descida da TSU às empresas.
Depois de ler o que Vítor Bento escreveu, apetecia-me perguntar-lhe o seguinte:
"Será que o senhor (Vítor Bento) conhece o(s) estudo(s) empírico(s) de Carmen M. Reinhart e Kenneth S. Rogoff , que atestam de forma empírica a máxima "Too Much Debt Means the Economy Can’t Grow"?
Leituras Complementares:
#1 Fiscal devaluation as a cure for Eurozone ills – Could it work?
#2 Um orçamento que não se pode executar