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2012-O Caleidoscópio da Crise.

por Faust Von Goethe, em 30.12.12

Chegados ao final do ano civil, há que fazer um pequeno balanço sobre a crise do euro-só para não lhe chamar algo pior.

Findado que está este ano, penso que estaremos todos de acordo num ponto fulcral. Governantes e políticos, da direita à esquerda, comentadores e até economistas encartados, recorrem às decisões do tribunal constitucional para suportar ou para criticar as decisões fracturantes dos governos em exercício de funções. Foi assim em Portugal, quando o tribunal constitucional chumbou categoricamente a suspensão dos subsídios de férias; foi assim há dias quando o tribunal constitucional chumbou a taxação de impostos aos mais ricos. Na Alemanha, embora Merkel tenha sido no último ano implacável e irredutível na gestão da crise do euro, não ousou em desafiar o tribunal constitucional alemão. Aliás, só avançou para a criação do fundo de resgate a nível europeu a.k.a. FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira) após a aprovação por parte do tribunal constitucional [alemão].

Embora a Europa viva actualmente um clima de aperto, onde os cidadãos europeus começam a reagir aos poucos, como um todo orgânico-ao ponto de se começarem a interessar vivamente pelo que estava a acontecer nos outros seus países-e embora 2012 tenha sido um ano marcado pela governação tecnocrática, as recentes eleições na europa provaram que a democracia, embora debilitada, ainda funciona. Foi assim na França, onde os franceses não perdoaram o facto de Sarko ter cedido aos caprichos de Merkel. Foi assim na Grécia, um país à beira da ingovernabilidade onde coabita um partido nazi em plena ascenção. E foi também assim em Itália, onde Monti-um verdadeiro tecnocrata no verdadeiro sentido da palavra- não conseguindo levar à avante a sua agenda política, acabou por se demitir, após a aprovação do orçamento de estado para 2013.

Deste ano de 2012 que amanhã finda às 12 badaladas, podemos extrair duas lições sucintas:

  • A carência e o desespero não são bons conselheiros;
  •  Os economistas que aconselham banqueiros e políticos não podem ignorar que acima deles existe um poder, que embora que não seja divino, está acima deles-o poder dos tribunais constitucionais.

No próximo ano será Itália que fará a Europa mexer. Ninguém sabe ainda o que fazer, tendo na mira um eventual regresso de Berlusconi e tendo um Monti que, embora enfraquecido, persiste em levar avante uma agenda austera e reformista. A janela que o liberalismo entreabriu no século XIX para a fomentação da democracia através do exercício parlamentar pode, em pleno século XXI, voltar a fechar-se caso os juízes alinhados politicamente ou dissidentes, usem o tribunal constitucional como panteão da democracia.

Para felicidade de alguns mas para a infelicidade de outros, 2013 será seguramente o ano da democracia constitucional. Em Portugal, embora a justiça esteja aparentemente estabilizada, ainda não encontrou as respostas adequadas e céleres para responder à crise da democracia.

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publicado às 19:36

Coimbra no Tempo dos Eléctricos.

por Faust Von Goethe, em 09.12.12

 

Quem compara o bulício da cidade de Coimbra nos tempos actuais com o bulício da cidade documentado no álbum de fotos Coimbra - Viagem de Eléctrico 1972-78, chega à conclusão que a única coisa que mudou na cidade nos últimos 40 anos foi a supressão da rede de eléctricos, que durante quase 7 décadas consecutivas (1911-1980), ofereceu aos habitantes da cidade um meio de deslocação eficaz no seio da cidade.

É certo que Coimbra é a única cidade Portuguesa que vigora na lista das "70 cidades inteligentes da Europa" assim como é certo que a cidade está munida de uma rede de autocarros que liga regularmente as principais artérias da cidades-sim, apenas as principais. No entanto, a falta de visão e de consciência ambiental por parte daqueles que, em tempos consideravam este meio de transporte como antiquado, barulhento e desconfortável, contribuiu de um certo modo para a degradação das condições de mobilidade sustentável no seio da cidade, já para não falar do contributo indirecto para a morte [prematura] de grande parte do comércio local na parte baixa da cidade, que se situa junto ao rio mondego (rio mondego situa-se à esquerda da foto acima).

E porquê? Perguntam vocês. Porque pessoas como eu que, morando na parte alta da cidade-no meu caso junto ao Hospital Universitário de Coimbra (cerca de 3.5km da baixa)-na impossibilidade de arranjarem estacionamento na baixa, optam por se deslocar a grandes superfícies situadas na periferia, para realizar as suas compras habituais assim como para disfrutar dos momentos de lazer.

É uma pena que assim seja!

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publicado às 08:32

Um Keynes deprimido.

por John Wolf, em 05.12.12

 

Uma depressão Keynesiana.

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publicado às 10:38

Memórias da fronteira Franco-Mexicana

por John Wolf, em 25.11.12

Na última viagem que realizei fiquei retido na fronteira Franco-Mexicana. Não tinha os documentos exigidos para transpôr a fronteira e deixei-me ficar. Instalei-me na pensão mais próxima e aguardei o desfecho do processo burocrático. Faltava um visto de turista no meu passaporte caduco. Ao jantar aproveitei para provar as iguarias da região. Mandei vir meia-dose de Soufflé de Pozole, mas antes o garçon de mesa tentou-me com um aperitivo - um Kir Real. Quando chegou a conta, paguei com erros. Agradeci com um semblante indigesto e expliquei de onde vinha. Falei das semelhanças, dos costumes e das particularidades de viver numa zona raiana. É engraçado como o mundo é tão pequeno e como as gentes são tão parecidas. A fronteira Luso-Germânica é famosa pelos seus enchidos e por corridas de touro benzidas a cerveja pelos santos padroeiros. Todos os anos sem falta, claro está - a Festa de Outubro.

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publicado às 15:11

Mundos e Fundos-Estado da Arte da Agenda Crescimento Europeia.

por Faust Von Goethe, em 24.11.12

O debate em torno dos fundos europeus está ao rubro tanto a nível europeu como a nível da imprensa nacional. Os argumentos, esses são os do costume, que vão desde o célebre “são os países mais ricos como França e Alemanha que mais lucram com orçamento comunitário”, passando pelo célebre argumento “não precisamos de tanto dinheiro, precisaremos, isso sim, de o saber gastar”.

Ambos os argumentos, embora aparentemente convincentes, não passam de meros slogans populistas do jornalismo político-económico, pecando por não tocar no problema de fundo, que de modo algum pode ser alienado da discussão subjacente ao orçamento plurianual 2014-2020: reindustrialização como motor de aceleração do crescimento económico.

Uma das principais dificuldades à cabeça das negociações deve-se às diferenças de coordenação entre Zona Euro e União Europeia, o que impossibilita o avanço para uma política orçamental comum. Dada a degradação e consequente fragmentação do entendimento polítíco, tal entendimento não passa de uma utopia. Por outro lado, nos países em dificuldades, como é o caso dos países periféricos, há uma necessidade emergente de se redireccionar de factores produtivos dos sectores de bens não transaccionáveis-como serviços imobiliários-para sectores de bens transaccionáveis-como a produção de automóveis.

Tal estratégia já está incluída no programa de ajustamento Português, e é muito semelhante à famigerada Agenda 2010 germânica [da autoria do governo coligação SPD-Verdes liberado por Gerhard Schroeder]. O ónus de tal ajustamento assenta redução significativa dos custos laborais, na restruturação do tecido produtivo, e na geração de desemprego estrutural. O objectivo base deste ajustamento visa a encolher os sectores que menos contribuem para as exportações.

No entanto, tal modelo não entre em linha de conta com a revolução cibernética dos últimos 5 anos, que vai desde o universo web 2.0 ao mundo emergente dos aparelhos móveis de geração 3G e 4G, cujo contributo para o crescimento em termos de PIB tem ficado muito aquém da revolução dos transportes ou até mesmo da máquina a vapor.  Acresce que, com o envelhecimento da população europeia, a busca de serviços tem-se sobreposto à produção de bens, pelo que o desemprego estrutural-como aquele que está a ser promovido pelas actuais políticas- contribui para a degradação do mercado laboral uma vez que temos simultaneamente jovens e pessoas na idade de pré-reforma (e até mesmo, idosos) à procura de trabalho.

Estes são alguns dos problemas e dilemas que deveriam ser tomados em linha de conta a quando da reprogramação dos fundos europeus assim como do orçamento plurianual para o período 2014-2020.

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publicado às 12:07

O melhor ainda está para vir(?)

por Faust Von Goethe, em 07.11.12

 


Ao contrário do John [que reside em portugal e tem nacionalidade americana], não sou especialista em questões de política norte-americana, confesso.
Mas mesmo assim vou arriscar fazer um breve comentário, tendo em conta o pouco que tenho ouvido por aí, em particular pela boca do Luís (Amado)-que esteve durante algumas horas a comentar as eleições EUA na RTPN durante o início da noite.

Ora bem: O segundo mandato Obama promete ser um mandato TNT pois, embora a campanha de Obama se tenha baseado muito no já famigerado ObamaCare-Romney já tinha implementado uma ideia semelhante enquanto governador- e na criação de empregos na economia para retirar os EUA da recessão, Obama vai provavelmente ter de fazer um backtracking de 4 anos, voltando a uma das suas promessas não cumpridas-a política energética como o mote para reindustrializar a América.
Não sei se "o melhor ainda está para vir" como disse Obama no seu discurso de vitória-ver aqui na íntegra. Desconfio apenas que, depois das políticas expansionistas levadas a cabo pelo FED-que consistiam em injectar dinheiro directamente na economia- que o próximo passo de Obama passará pelo reequilíbrio as suas contas públicas via austeridade fiscal, como já vem sido levado a cabo na europa. Embora este aspecto não tenha sido contemplado na campanha de Obama, é provável que este seja o caminho.
Ao contrário do Senado, a Câmara dos Representantes é controlada maioritariamente por republicanos. E estes não prometem fazer vida fácil a Obama. Pelo menos nesta primeira fase.

Na imagem: "Four more years", uma das fotos que mais "gostos" de sempre partilhada no Facebook.

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publicado às 14:48

O(s) dilema(s) da Zona Euro

por Faust Von Goethe, em 02.11.12

 

O problema da zona euro não é de agora.  Já vem de 2001, por altura da adesão da China à Organização Mundial do Comércio.

Com esta abertura do comércio a nível global-ao qual se juntou recentemente a Rússia-abriu as portas a um descontrolo a nível global sem precedentes na história.

O resultado desta desregulação está à vista. O facto de países como a China competirem com o resto do mundo em termos de mão de obra, materiais e ajudas do estado contribuiram para a deslocalização de empresas de países europeus, causa essa que explica em grande parte os valores alarmantes de desemprego na zona euro.

Engane-se portanto quem disser que a crise da zona euro não belisca em nada o governo de Berlim. Muito pelo contrário. Mas resolver parte do problema implica uma mudança de profunda do paradigma por parte da [economia] Alemã, que para além de ser a economia mais competitiva dentro da zona euro, é aquela que tem um maior número de relações comerciais com a China. 
Acresce que, ao contrário do que se noticia em grande parte da imprensa, a banca alemã está profundamente debilitada, por ter emprestado dinheiro a países como Espanha antes do estalar da crise dos subprimes. Esta última "crise" veio apenas contribuir para que este problema se agravasse em larga escala.

Todos sabiam portanto que havia sérios riscos de falência a nível global. Só não sabiam o quanto essa falência poderia por em causa o “estado social”.  Esta é uma entre várias razões porque a Alemanha nunca irá aceitar fazer parte de reestruturações de dívidas a países intervencionados como Portugal e Grécia mas estará disponível para recapitalizar, se necessário, a banca Irlandesa [e até mesmo a banca espanhola]. Eventuais perdões de dívida poderiam conduzir a uma falência de todos os bancos centrais a nível europeu.
O dilema alemão é no fundo o dilema de todos os países da zona euro. E este dilema passa por decidir se estamos dispostos para pagar o preço da ganância, movido em grande parte por hedgefunds e pelo desperdício de recursos da banca europeia para subsidiar a criação de filiais de grandes empresas europeias em países fora da Europa.   

De nada nos vale dizer que o problema é apenas de quem nos governa actualmente. Se fizermos um flashback de 20 anos-altura em que foi assinado o tratado de Maastrich- chegamos à conclusão de que se a nível europeu as coisas tivessem sido encaminhadas numa outra direcção, provavelmente nunca teríamos chegado a este ponto. Mas isso agora é o que menos interessa.
Só há portanto uma via. E essa via passa por se resolver em conjunto este problema. Para isso, políticos, banqueiros e afins terão de assumir as culpas e tentar resolver os problemas no seio da união monetária. O primeiro passo de uma longa caminhada será dado com o início da união bancária.


Adenda: A saída dos periféricos da zona euro custará, em média, 21000 euros a cada alemão. E na situação actual, eles terão [mesmo] de se esforçar. Caso contrário, os fundos de pensão da banca e outras prestações sociais usadas para pagar pensionistas abastados, teria de ser usada. E lá se iria o "estado social" alemão...

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publicado às 21:24

Vossa Excelência...a Excelência de Portugal!

por John Wolf, em 16.10.12


Economia de Excelência (capítulo integral do livro - Portugal Traduzido - Edições Cosmos, 2008)

 

Ao abrir o capítulo, não posso deixar de pensar na expressão ‘milagre económico’ e questionar seriamente se tal será possível, ou se estaremos a blasfemar. A meu ver, a economia corresponde aos antípodas de um milagre. Ou seja, um milagre acontecerá por intervenção ou inspiração divinas, de forma gratuita e será dificilmente fundamentado por racionalidades. Ao invés, a economia encerra em si uma atitude de trabalho e é mensurável em termos objectivos e racionais. O que poderá aproximar a economia a um milagre prender-se-á com a ideia de inspiração. Por um lado, a fé obriga a uma procura interior de forças para a concretização de objectivos existenciais, enquanto a economia exige a contínua procura de soluções criativas para incrementar a produtividade e ganhar mercados. Em ambos os casos estaremos na presença de um ideal, enquanto propósito a atingir. Sem o contributo da força de uma imagem projectada, nenhum empreendimento poderá nascer. E essas imagens nascem no âmago do humano.

A economia, numa fase embrionária, assume-se com a tomada de consciência das diferentes e específicas necessidades humanas. Corresponderá ao reconhecimento de uma lacuna existencial, física ou não. A ideia de riqueza apenas surge na sequência ulterior do desenvolvimento da ideia criativa. Se somos bem sucedidos no preenchimento de uma necessidade humana, contribuímos então para o progresso de uma sociedade, e com a ocorrência de tal facto, a compensação financeira acontece enquanto retribuição pela qualidade oferecida. Somos desde já confrontados com o aspecto fulcral da ideia de economia. Trata-se da noção de que um processo genuinamente criativo tem de ocorrer no núcleo de uma sociedade, para que esta se converta numa sociedade produtiva, económica e geradora de riqueza. Um processo criativo será um processo excêntrico, pela integração de elementos exógenos à constituição genética e indígena de um dado problema, porque nem sempre a solução nasce no núcleo do problema ou desafio.

Poderemos considerar o processo criativo enquanto uma busca contínua de soluções. Tratar-se-á de um processo de outsourcing mental, através do qual o indivíduo procura ampliar o leque de possibilidades para uma dada dimensão ou desafio. Em resultado desta atitude assumidamente intelectual nenhum processo será finito e nenhum modelo económico poderá ser adoptado de forma integral e absoluta. A tarefa consistirá em inventar novas necessidades humanas que assumem sempre uma dimensão económica, mas não necessariamente a dimensão material ou física. Ao assumirmos a economia enquanto realidade cognitiva, para não utilizar a expressão virtual, teremos a oportunidade de gerar riqueza sem criar resíduos industriais ou infra-estruturas pesadas. A economia em Portugal ainda está algo obcecada com a ideia de infra-estrutura, seja grande ou pequena. Reconhecemos uma certa patologia da visibilidade da obra, através da qual se purga a abstracção da máquina produtiva. Ou seja a invisibilidade da ideia inovadora ‘invisível’ é compensada com a grande obra sólida.

A excessiva estratificação social em Portugal também minou o posicionamento profissional, pela forma como se faz a discriminação entre as diferentes funções da cadeia produtiva. Como se uns contribuíssem mais para a economia do que outros, de uma forma linear e não ponderada.

Teremos também de criticar a fantasia académica que assola Portugal, reino onde todos são doutores e têm ligações privilegiadas a decisores ou estruturas de poder. A ênfase é colocada na dimensão humana da economia, mas de forma negativa, traindo o ideal do mérito objectivo, numa sociedade onde supostamente ninguém se deve conhecer à partida. Tratamos aqui de uma sub-estrutura mental que deve preceder a operacionalidade da economia. Enquanto não se perceber que a economia deve ter origem numa ‘sociedade anónima’, corremos o risco de desvirtuar o sonho de geração de riqueza. Neste sentido, deveríamos tentar encontrar os valores humanos que foram suprimidos pela incompetência daqueles que foram já identificados e colocados em posições de privilégio. Paradoxalmente, encontramos as pessoas erradas nos locais certos, confirmando um erro de casting e desresponsabilizando a mediocridade profissional de quem pratica erros objectivos mas que continua a manter as suas posições porque conhece as pessoas certas, mas não as acertadas. Os despedimentos colectivos poderiam ser convertidos em despedimentos selectivos ou contratações específicas. O contributo negativo daqueles que desconsideram os seus semelhantes na estrutura produtiva contribui para minar o fundamento intocável da construção de uma sociedade económica colectiva baseada no mérito.

Torna-se curioso observar que a ‘luta de classes profissionais’ em Portugal ainda não é um assunto totalmente esclarecido. Observamos uma clivagem, entre a suposta aristocracia económica estabelecida e os recém-chegados, que não aceita que representantes da escalada económica e social venham a ocupar a sua posição. Uma dinastia económica ou rede de famílias dominantes não promove eficiência produtiva ou inovação económica se impede a entrada de novos membros ou talento na estrutura produtiva. Assistimos à substituição de valores económicos puros por mecanismos de troca de favores, o que contribui para o desleixo e incompetência na actividade produtiva. A economia não pode sobreviver à custa de famílias com tradição no ramo ou de lugares cativos em posições-chave. A economia vive sobretudo à custa da ruptura e mudança. Embora a história possa conceder lições ou exemplos relevantes, não serve o caminho do progresso e da abertura. ‘Ganhos passados não garantem rendimentos futuros’, nem currículos de supostos gurus do saber económico. A economia vive à custa de loucos e excêntricos que definem o que o consumidor jamais sonhou necessitar. O comportamento tímido e conservador dos empresários resulta da falta de ideias e criatividade. A economia, neste sentido, também representa uma manifestação de cultura e não será possível desenvolver soluções inovadoras se os que pretendem gerar riqueza não demonstram amplitude cultural para realizar a leitura da sociedade em que se inserem.

O processo de cultivo e optimização do saber implica cortes transversais nas relações socioprofissionais. Observamos em Portugal sintomas de mau relacionamento entre as diferentes classes sociais, ou se quisermos entre patrões e operários. O problema da economia em Portugal não é um problema de hardware (infra-estruturas física ou competências), mas sim de software (atitude). A alteração do programa mental que condiciona esse relacionamento corresponde a um processo exigente na medida em que obriga à rejeição de elementos que integram o carácter nacional forjado ao longo de séculos. O orgulho nacional, ou o passado histórico ‘glorioso’ de um país, representam bloqueios à prossecução de objectivos económicos, no quadro de um mundo descaracterizado onde a identidade nacional se vê diluída em nome da produtividade. A excessiva grandeza dos empreendimentos passados não contribui de forma equilibrada para a formação de um quadro mental sustentável.

Como então promover processos que possam facilitar a ousadia, o arregaçar das mangas e a criatividade? O estigma da ‘resposta errada’ representa uma patologia cultural a merecer uma cura definitiva, para que o processo criativo possa acontecer naturalmente. Ou seja, integrar na psicologia colectiva a possibilidade de não se acertar à primeira com a solução adequada, mas extrair desse processo lições válidas. O perfil orgulhoso da nação pode significar também o nefasto afastamento da infantilidade intelectual ou cultural, elemento necessário para erigir uma ideia criativa. As tentativas e erros que ocorrem no processo para encontrar as soluções adequadas, fazem parte do ‘track record’ de qualquer projecto. Elencar ou registar as contribuições negativas (as ideias aparentemente tolas ou absurdas) pode constituir um depósito de soluções para situações futuras. Condenar de uma assentada o indivíduo e a ideia proposta (que não serve de solução), contraria profundamente a ideia de evolução, progresso ou mesmo democracia.

De que forma então poderemos promover a salvação da metodologia construtiva de respostas numa sociedade? A tarefa poderá consistir em separar o objecto (ideia, projecto, conceito, modelo) do sujeito (indivíduo, autor, personalidade), distinguindo os aspectos formais dos materiais e pela exclusão dos elementos emocionais que condicionem a existência autónoma ou independente da solução criativa. Reforço a ideia de que a criatividade representa um fenómeno excêntrico, que mina os alicerces dos paradigmas dominantes e instalados. Poderíamos aceitar enquanto metodologia a identificação dos traços económicos da nação em função do carácter nacional, e adequar deste modo os eventuais modelos de desenvolvimento à personalidade colectiva.

Será Portugal um país vocacionado para a indústria, o turismo, para os serviços ou as tecnologias de informação? Qual o posicionamento possível da economia nacional no quadro global? Que inovações poderá Portugal esperar que representem vectores válidos para o crescimento económico?

Em função desta tipologia de questão, poderemos encontrar respostas para a descrição do perfil psico-económico da nação. E ao traçarmos as características económicas da nação, poderemos descortinar qual a medida da ambição nacional. Contudo e contrariamente, se aceitássemos esta ideia de perfil ou características dominantes estaríamos a limitar as infinitas possibilidades que se oferecem a um país. Um país deve decidir o perfil económico que quiser e álibis de desresponsabilização baseados no carácter nacional devem ser afastados. Uma economia será o que quisermos que ela seja.

Um país, ao projectar-se para além do tangível do momento, assume uma atitude de ambição. Por sua vez a ambição nacional só se ‘eterniza’ e passa de geração para geração se a riqueza criada pela mesma puder ser devolvida à sociedade. A ideia de riqueza em Portugal está associada à ideia de uma elite privilegiada que não entende este processo de reinvestimento noutras texturas socio-económicas, que constituem a garantia para a sua continuidade. Ou seja, as oportunidades geradas têm dificuldade em migrar daqueles que as possuem para aqueles que as desejam. Esta relação pode ter um efeito desagregador e desencoraja a escalada económica que muitos agentes ou indivíduos desejam realizar, porque não sentem o estímulo positivo da entidade bem sucedida e o seu contributo para o ideal anónimo. A noção de self-made man ainda não representa um modelo validamente reconhecido em Portugal, pela estrutura social. O abandono das origens humildes pelo indivíduo e a transformação de precariedade económica em sucesso continua a ser percepcionado de forma dúbia e com algumas suspeições. Este reflexo enraizado na psique nacional não será totalmente descabido, uma vez que poderá estar relacionado com o desvirtuar dos tempos ou ciclos normais de crescimento económico ou sucesso. O calendário de riqueza ou produtividade relaciona-se muitas vezes com planos marginais de enriquecimento rápido. Esta noção encontrará sem dúvida a sua origem no passado histórico de Portugal. A própria invenção nacional dos descobrimentos e a abertura das rotas de comércio global validou a ideia de enriquecimento rápido não resultante de actividade económica convencional e directa. Destrói-se deste modo um dos pilares da economia, a ideia de valor intrínseco, que não se deve confundir com o conceito de valor de mercado, que tem uma natureza mais psicológica ou especulativa. Ou seja, um valor intrínseco agrega os elementos dinâmicos e objectivos de uma economia que transcendem as vicissitudes conjunturais. A criatividade, a inovação, o valor, a durabilidade, a utilidade, a produtividade e a humanidade dos bens criados (a forma como servem o Homem).

A economia, tal como vem sendo explicada, não obedece a nenhum critério de nacionalidade, o que representaria uma doutrina nacionalista e que implicaria distinguir países com maior vocação económica de outros com fraca atitude produtiva. Será possível, contudo, assumir uma ideia de denominação de origem económica, elencando os atributos económicos exclusivos que definem um país e que são passíveis de gerar riqueza. A expressão ‘valor intrínseco’ poderá significar ou representar a pedra angular que condiciona a definição do projecto nacional para uma economia de sucesso. O seu significado precede a ideia de actividade produtiva propriamente dita, para preencher a dimensão sociológica e cultural de um país.

O que poderá significar então? Uma abordagem tradicionalista ou cultural da ideia de valor intrínseco poderá relacionar-se com a identificação de elementos que uma sociedade reconhece enquanto intocáveis ou invioláveis. Referimo-nos a tradições ou práticas que integram a resenha definidora da nação. Trata-se de elementos icónicos sem os quais a nação deixa de existir na sua afirmação, e na sua distinção de outras nações. Esses elementos, consubstanciados em práticas ou matérias provêm do percurso existencial da nação, e são fruto de uma amálgama com várias proveniências. Convém no entanto ressalvar que nem todas as tradições ou práticas culturais serão passíveis de conversão em valor económico. Poderá acontecer até que determinados vincos culturais ou tradicionais sejam mesmo contraproducentes. Uma das tarefas consistirá em proceder à eleição dos vectores culturais ou tradições que poderão veicular força económica ou (re)inovação.

A referência a cultura deverá ser entendida enquanto a atitude perante o conhecimento, que molda um quadro mental flexível e disponível para exercícios de adaptação a novos desafios. Aproximamo-nos de um conceito de cultura que poderá estar mais ligado às práticas enraizadas no comportamento económico de um país, e nessa medida entendido como um elemento condicionador da actividade produtiva. Ou seja, uma definição de cultura que revela a capacidade para reinventar a própria abordagem ao conhecimento sob um prisma económico.

O valor intrínseco reconduz-se a cultura e ao que acabamos de descrever, na medida em que se sublinha um sentido de procura de valores maiores, que integra a alma humana e que condiciona comportamentos. A cultura invoca essa grandeza de realização e a economia deve extrair lições desse vector construtivo.

O valor intrínseco comporta na sua génese ou matéria uma condição de imunidade perante os diferentes níveis de percepção de que possa ser alvo – há valores que perduram para além da vontade humana. Em termos económicos ou de mercado (relacionado com a ideia de percepção), consubstancia-se no preço atribuído a determinado bem ou serviço, mas que não corresponde ao seu valor intrínseco. O valor intrínseco corresponde ao intangível, que não pode ser apropriado de todo ou apenas por unidades de medida usados no mercado.

Convém no entanto salvaguardar que considerarmos a dificuldade da mensurabilidade do valor intrínseco. Quais serão as medidas válidas para determinar o valor intrínseco? Poderemos aceitar matrizes de classificação distintas para reconhecer que o valor intrínseco transcende a racionalidade pura. Mas mais importante do que a determinação da medida, será a tomada de consciência da sua existência. O reconhecimento por parte de um país da disponibilidade de valores no seu espaço determinará a vitalidade na prossecução de um ideal de progresso e crescimento sustentado.

Esta interpretação da importância de valor intrínseco poderá espoletar na economia um processo de reavaliação das prioridades. Não estará Portugal sentado sobre um manancial de valores intrínsecos convertíveis em significado económico e expressão de mercado?

Esses valores intrínsecos que devemos procurar identificar, andam a par de outro conceito determinante para a geração de riqueza. A excelência. Poderemos entender este atributo como pré-condição para qualquer actividade humana. Ou seja, a ideia de que cada indivíduo poderá imprimir um grau de exigência elevado na realização de qualquer tarefa ou na concretização de algum projecto, mesmo que os outros não o reconheçam ou identifiquem. O valor intrínseco será neste sentido, resultante da excelência, e teremos assim pelo menos duas variantes. Por um lado a identificação de valores intrínsecos provenientes da procura de excelência no passado (histórica), e por outro lado uma visão prospectiva, que promove a ideia de excelência enquanto alicerce para a criação de valor.

A transformação da substância em valor intrínseco depende da validação efectuada por gerações sucessivas, que sustenta a sua continuidade pela contínua melhoria dos seus atributos e pela descoberta de novas aplicações ou mercados. Portugal disporá já de um cabaz de valores intrínsecos passíveis de serem revalidados por novas apetências ou mercados, e paralelamente torna-se urgente inventar novas valias que resistam a sucessivos ciclos económicos que se vão encurtando. A economia nesta acepção ‘valiosa’ floresce à custa da excelência que procura criar ou dar continuidade ao valor intrínseco. A replicação ou adopção de modelos de negócio ou económicos de outras paragens, serve numa visão de valor não intrínseco e negação da excepcionalidade. Se uma economia defende a ideia de valores próprios e uma identidade somos reconduzidos à ideia de valor intrínseco, consubstanciada no conceito de denominação de origem económica – valores intrínsecos com uma origem claramente identificada.

Um dos princípios básicos de geração de riqueza, e utilizando uma acepção transnacional ou global, relaciona-se com a possibilidade de deslocação dos vectores positivos ou negativos de uma economia. Um dos vectores que se pode observar será a emigração, que constitui um exemplo de como uma sociedade se movimenta em busca do epicentro do valor intrínseco, transferindo a possibilidade de geração de riqueza de uma paragem para outra ou de um país para outro. A imigração por seu turno corresponde a um fenómeno de atracção, e à percepção de que existe valor intrínseco no território de destino, e esse facto, presente no espírito humano constitui um factor produtivo positivo, pela forma como a expectativa humana pode ser convertida em capacidade produtiva.

Os atributos do valor intrínseco que procuramos identificar poderá conduzir-nos a alguns ícones do ‘espólio cultural nacional’ passíveis de conversão em produtos e marcas com relevo à dimensão global. Esta via de inversão da lógica inicial da globalização significa que cada país terá a possibilidade de reforçar a ‘fixação’ da produção autóctone, contrariando os fenómenos de deslocalização dos meios de produção.

As actividades artesanais em Portugal, entendidas enquanto valores intrínsecos que perduram no tempo, nunca mereceram a atenção económica devida. A adopção de modelos de desenvolvimento ‘modernos’ e do norte da Europa contribuiu para que as práticas tradicionais ou nativas tenham sido excluídas do grosso do projecto económico nacional. E as artes tradicionais que se extinguem representam soluções tecnológicas e inovadoras provenientes do passado, e que se poderiam projectar no futuro. Reflectir sobre a importância das actividades artesanais representa antes de mais um exercício de proximidade cultural, na medida em que as populações mantêm nestas artes uma relação emocional, cultural e de saber, o que não acontece com as novas tecnologias, que carecem de um sentido de enraizamento ou tradição.

O exercício mental que propomos consiste em repensar a base económica de um país a partir da sua matriz artesanal ou cultural. Esta abordagem representa uma tentativa de ‘reinvenção da roda’, ensaiando o reaproveitamento de elementos considerados pouco dinâmicos ou produtivos. Mais importante do que a eleição dos elementos que devem merecer esta forma de processamento, poderíamos utilizar símbolos intensamente enraizados na cultura local para tornar possível este exercício de reinvenção económica. Para a população em geral, parada no paradigma cultural local (independentemente do seu contacto com o mundo globalizado) a ligação com as práticas artesanais será mais fácil, em termos afectivos ou emocionais, do que estabelecimento da ligação com a ‘cultura neutra’ das novas tecnologias. Alguns exemplos de ‘neo-artesanato’ poderão servir para provocar brainstormings conducentes ao desenvolvimento de bens ou serviços com finalidade económica. Os computadores e a internet, no contexto da própria alteração da noção de tempo, começam a preencher muitos dos requisitos que os transformarão em objectos artesanais globais.

Um primeiro exercício simples, e que aqui se lança enquanto desafio, poderia consistir em enumerar os bens, artes ou actividades em vias de extinção e que constituem valores intrínsecos geradores de riqueza. Confirmamos a falta de imaginação dos empresários portugueses, que não integram no seu pensamento empreendedor a ideia de simplicidade económica, o que os levaria a procurar no sótão relíquias com potencial valor económico. A maioria das necessidades humanas já terá sido inventada, e a banalidade da vida oferece-nos a possibilidade de voltar a vender conceitos ou produtos básicos.

O conceito relacional entre o antigo e o moderno (enquanto metodologia para descobrir ‘novos’ bens ou serviços), poderia representar uma forma de novamente fazer render velhos ofícios ou artefactos.. Os produtos com valor intrínseco são embaixadores da economia, pela forma como condicionam a percepção que os outros têm de Portugal. Com tanta alusão à glória cultural de Portugal e ao seu passado grandioso, não assistimos ao aproveitamento de um processo contínuo de depuração económica, que se poderia traduzir no desenvolvimento de soluções para nichos de mercado. A concentração na ideia económica de ‘fora para dentro’ significa o descurar dos valores nascidos e criados localmente.

Os velhos mestres portugueses representam o último reduto para a preservação das artes tradicionais, uma vez que ‘escolas para aprendizes’ não são instituídas. A baixa pombalina desenha essa matriz económica das artes que se vão perdendo nos tempos modernos. Os correeiros que refinaram o modo de fabrico de arreios para o sector equestre, não receberam o apoio devido no sentido de fornecer os mercados internacionais. O próprio sector em Portugal, que alberga mais de trezentos e cinquenta criadores, deveria ser uma ‘indústria pesada’ a ter em conta. Se observarmos a economia alemã e o peso que a exportação de cavalos de desporto tem no seu PIB, poderemos repensar o ex-libris que representa o Puro-sangue Lusitano, já descoberto pelo mundo enquanto produto exclusivo e com vocação para a alta competição de dressage.

Mas a questão estrutural que se coloca diz respeito a um processo de auto-estima económico e cultural. As artes tradicionais encerram em si o conceito já avançado de valor intrínseco. Será que Portugal pode combater na arena económica internacional com países ou sectores económicos, em relação aos quais se observa um distanciamento tecnológico muito marcado? Será desejável embarcar num comboio que partiu há muito? Portugal poderia aproveitar a sua tendência para a ostentação para servir os mercados de produtos exclusivos, criando novas necessidades de luxo. O golfe, que tem sido promovido como o ouro negro do Algarve, não gerou um efeito de spill-over, para além da ocupação hoteleira, que significaria o desenvolvimento da indústria de acessórios com marcas fortes e produtos de qualidade. Sem pretender ser exaustivo em relação a diferentes áreas que possam merecer desenvolvimento, teremos de apontar muitos dos atributos de excelência que se manifestam em Portugal. Os portugueses reconhecidamente sabem trabalhar o ferro, a pedra, ou o vidro. Por que razão estas artes não foram convertidas em ‘universidades’ e produtos inovadores reconhecidos como marcas de excelência? Recorrentemente confirmamos o não reconhecimento das oportunidades prospectivas para estas artes fortemente enraizadas no cabaz nacional de valores culturais.

A procura de ramos, sectores ou indústrias deve começar pela identificação das artes perdidas ou em vias de extinção. A questão que se coloca equaciona-se da seguinte forma: de que modo Portugal poderá tornar-se competitivo à escala global? Que produtos ou actividades de excelência conseguirão impor-se no quadro de um mercado global cada vez mais normalizado? A resposta a esta questão relaciona-se em grande parte, não com uma ideia de produto ou actividade, mas porventura com os atributos do workforce português. Um dos atributos indiscutíveis do retrato económico nacional será sem dúvida, a grande capacidade de mobilidade dos trabalhadores portugueses.

Poderemos afirmar que os emigrantes portugueses representam o melhor ‘produto’ nacional alguma vez exportado. Os migrantes e emigrantes portugueses demonstraram grande garra no tocante à elevação do seu nível de vida. A riqueza gerada pelos portugueses no estrangeiro, acaba infelizmente por servir melhor as economias de acolhimento do que Portugal. Uma extensão do conceito de valor intrínseco diz respeito a esta dimensão humana por excelência, a capacidade que os portugueses têm para se deslocalizar. Essa experiência económica, nas suas causas e efeitos, deveria servir para a aprendizagem relacionada com a inversão do fenómeno. Ou seja, Portugal tornou-se também país de acolhimento da força de vontade humana, mas ainda não soube converter a expectativa humana, o talento e o know-how dos imigrantes em valor real para a sociedade e a economia nacionais. De um modo preliminar poderemos avançar, que o capital humano em Portugal ainda não mereceu o reconhecimento e o tratamento devidos.

Por seu turno, a chegada de sucessivas vagas de imigrantes traduz-se no contínuo refrescar da capacidade intelectual e material de uma sociedade. Não compreender essa realidade constitui um entrave ao fluxo de ideias entre os diferentes segmentos do tecido social, português ou não. Os obstáculos mentais e culturais à chegada de elementos que questionam os paradigmas dominantes, devem ser substituídos por espaços abertos de recepção e aproveitamento de talento e atributos intelectuais. A redefinição do conceito de zonas económicas especiais poderia significar um fenómeno de atracção e fixação de elementos potencialmente geradores de riqueza.

Vamos supor que certas regiões do território nacional sujeitas ao fenómeno de desertificação ou desemprego possam criar condições para relançar o seu desenvolvimento. Para além da criação de zonas de compensação fiscal e da reduzida taxação de empresas, um certo ambiente intelectual poderia servir para alicerçar investidores e fixar membros da ‘comunidade cerebral’ que partem à procura de novas paragens mais vantajosas em termos económicos, académicos ou sociais. A deslocalização das grandes multinacionais para países do leste europeu ou para o sudeste asiático, deixando Portugal de mãos a abanar, poderia servir para repensar as formas de atracção de vectores produtivos. Se a redução das cargas fiscais para as empresas que pretendam fixar residência em Portugal, representar o modo de eliminar o desemprego em determinadas regiões, então será sempre uma opção viável, uma vez que serão os trabalhadores a beneficiar com salários dignos, e esses rendimentos, estimulando o consumo privado e directo, significa a permanência no território de valores financeiros importantes.

Poder-se-ia desenvolver um conceito de on-shore através do qual se implementam processos de reequilíbrio estrutural, condição necessária ao crescimento sustentado. O Estado, enquanto beneficiário dos impostos e taxas das grandes multinacionais acaba por não devolver os meios financeiros aos trabalhadores que são duplamente contribuintes (pela oferta de mão-de-obra e pelo pagamento de impostos), negando deste modo a possibilidade aos trabalhadores de eventualmente se lançarem no domínio da livre iniciativa empresarial.

As empresas mais sólidas a nível mundial tiveram quase sempre uma origem modesta, familiar ou mesmo individual. A economia não representará uma entidade abstracta. Cabe a cada indivíduo reinterpretar o mundo que o rodeia e repensar o que significa a criação de valor. E a riqueza que se gera terá apenas um destino. A sua devolução à sociedade. Cada indivíduo, independentemente da sua função económica, do seu know-how ou grau de instrução, tem um papel importante a desenvolver na geração de riqueza. O denominador comum de qualquer processo da economia será sempre a procura de excelência. Faça a sua escolha. Produza excelência.

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publicado às 11:36

Austeridade, vai-te lixar!

por John Wolf, em 06.10.12

 

Para além de gritar desalmadamente, bater na mesma tecla de protesto, cabe à sociedade cívil pôr em prática alguns antídotos para a austeridade. A subida de impostos está efectivamente a retirar poder de compra aos consumidores. Embora a designação não seja a utilizada, assistimos a inflação. Inflação de preços por um lado, e numa escala Europeia, a inflação na sua acepção mais pura. Ou seja, o aumento da base monetária por via directa ou indirecta de impressão de divisas, ou compra pelo BCE de títulos de tesouro de países em apuros. De qualquer modo o resultado das acções (des)concertadas é idêntico; o rendimento disponível dos cidadãos está a minguar. O preço de um litro de leite ou de um par de sapatos já aumentou sem que alguém tenha acrescentado zeros à etiqueta. Como a reposição da riqueza não cabe ao Estado, uma vez que o seu papel fundamental consubstancia-se na transferência de rendimentos, dando expressão a uma boa parte do contrato "colectivo" ou "electivo", ou seja,  justiça económica e social, cabe  à sociedade civil tomar a iniciativa. Os intervenientes que vivem e operam no mercado, estão obrigados a encontrar soluções que promovam o crescimento e emprego. Nessa medida, os agentes económicos que competem pela mesma quota de mercado, devem proceder a reduções drásticas dos preços dos bens e serviços que oferecem. Numa primeira fase, observaremos assimetrias no comportamento económico, que alguns chamarão de concorrência desleal. Mas a vantagem competitiva faz parte da natureza humana, está entranhada no DNA e vem à tona em momentos de desespero, de crise. Deste modo, e a título de exemplo, o café da esquina deve baixar o preço da bica aos 30 cêntimos, provocando desse modo uma procura acrescida, e, embora a sua margem seja menor, tal facto será atenuado pela procura - uma casa apinhada de clientes ávidos por realizar uma poupança, aumentando deste modo o seu rendimento disponível. A cultura económica europeia fortemente dependente de soluções vindas de cima, e sempre queixosa dos constrangimento da lei, tem de alterar rapidamente o seu quadro mental, a sua forma de interpretar as regras do jogo. Se ficar à espera da bonança, mais vale ficar sentado no banco do jardim à espera de melhores dias que não virão. Neste momento, distintas dimensões que serviram para medir os tempos económicos estão em rota de colisão. O desemprego que se assume como conjuntural, está em mutação para se tornar um residente com um visto de permanência mais próximo dos 10%. E este facto vai provocar rombos no conceito de segurança económica e social. Jamais regressaremos ao passado de relativo conforto de uma percentagem "aceitável". Nessa medida, o Estado deve rever a sua matriz filosófica, o seu modo existencial, e instigar a ideia de transferência voluntária. E é aqui que reside o problema. Como se pode dar o que se não tem.

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publicado às 13:33




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