Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ultimamente tenho andado com a vista cansada. Deve ser das lunetas...
A primeira frase que escrevi quando comecei a redigir este texto foi apagada, e foi-o porque me soou tão familiar que resolvi substituí-la pela original, que será, com certeza, melhor que a minha. A frase é esta:
e é adequada porque os acontecimentos desta semana serviram para me convencer que vivo num país em que o que nos sai da boca não é avaliado pela veracidade ou realismo das nossas palavras, mas pela conta bancária, posição social ou quadrante político.
Um pais em que se desculpa o racismo e se condena a constatação de que somos todos iguais.
Se não for assim, como se explica que na Assembleia da República se indignem por alguém simplesmente se conformar com o facto de que se uns suportam viver nas ruas os outros também o suportariam, enquanto que insultos como "rei-mago escurinho" passam impunes?
Querem condenar? Então condenem mas sejam coerentes.
Já agora, aproveito outra expressão: se eu aguento mais hipocrisia? Ai aguento, aguento! Sei que vou ter de aguentar porque eles não mudam.
Quo vadis societatis?
Uma prenda de Natal que gostaria de partilhar com todos.
Encostado à porta da cozinha de minha casa, mais ou menos confortável, discutia com a minha família as taxas, impostos e afins que este governo vai atirando para cima dos portugueses e foi encostado que me apercebi que o meu pai estava encostado à chaminé, a minha mãe encostada ao fogão e a minha esposa encostada ao armário e que todos encostados criticávamos, defendíamos, atacávamos, idealizávamos... encostados. Nesse momento tive vontade de sair dali e terminar a minha participação na discussão, não por estar farto dela ou de quem nela também participava mas por vergonha, a vergonha de estar a criticar, a defender, a atacar, a idealizar sem ter coragem de fazer alguma coisa... e não há desculpa para esta falta de coragem, facto que só vem agravar o meu sentimento de vergonha: não há desculpa.
Depois deste episódio fiquei mais atento a todos, e a vergonha individual que sentia passei a senti-la por muita gente.
Senti-a por aqueles que nunca tendo feito nada na vida criticam técnicos que queimaram/queimam as pestanas todos os dias para fazer alguma coisa, senti-a por aqueles que se queixam no facebook da falta de dinheiro através do seu Iphone 5 e senti-a por aqueles que vomitam as ideias que lhes puseram no prato e acabaram mal digeridas sem respostas ao quem, quando, como, onde, o quê e porquê.
Compreendo os que tendo o coração na boca dizem tudo o que lhes vai na alma mas o insulto não ganha o respeito daqueles que vos ouvem, pelo menos o meu não o levam, e se as coisas estão assim tão mal, tenham coragem de reconhecer que até fazerem tudo ao vosso alcance para as melhorar, não fizeram nada. E tudo é muita, mesmo muita coisa! Porque há aqueles que por irem a uma manif. ou fazerem uma greve pensam que são os salvadores do país... para mim manifestações (tirando as de alegria e afecto) e greves são formas preguiçosas de disfarçar a acção.
Penso que depois daquele episódio que descrevi acima, o meu cérebro se transformou numa espécie de fluído não-newtoniano em que acções drásticas, ideias radicais, pressões estúpidas e insultos deixaram de penetrar, e apenas aqueles que demonstram envolvimento sincero e total na acção o conseguem invadir.
Julgo que fiquei melhor.
Querem o meu respeito? Mostrem-me a vossa coragem.
As pessoas não podem ser julgadas tendo por base uma onda de opinião nas redes sociais. Isto é o que eu penso que sei.
É claro que haverá gente a discordar de mim, mas isso é problema de quem pensa que sabe que não é assim e não meu.
O que tenho assistido nos últimos dias - acerca de Isabel Jonet - parece uma adaptação do conto Frei Genebro de Eça de Queiroz e o sentimento que me assola é exactamente o mesmo: injustiça.
A justiça divina do conto toma neste caso a forma de justiça facebookiana e trata com desprezo qualquer acto anterior ou qualquer intenção diferente daquela que os carrascos amigos de facebook supõem. Assim, nos últimos tempos, inundam o terceiro maior "país" do planeta com pedidos de explicações e exigências de desculpas mostrando a falta de compreensão e até uma presunção de superioridade relativamente a quem durante 20 anos teve um papel agradável mas que, por todos quererem ser mais santos que os demais, suponho que suscitava invejas ou pelo menos vontade de criticar.
Agora chegou a desculpa que esses procuravam.
Aquilo que eu depreendi das palavras de Isabel Jonet foi um aviso de alguém que já viu e viveu mais do que eu, nada mais, nada menos, e por isso lembrei-me do ditado anglo-saxónico: no good deed goes unpunished.
Isto é o que eu penso que sei, provavelmente estarei errado, mas tu que lês este texto e tens uma opinião diferente - contrária ou não - provavelmente também estás errado, e eles, os que estão à nossa volta, também, porque todos nós pensamos que sabemos quando na realidade não fazemos ideia.
Pena que nestas coisas da justiça e da consciência não podemos usar a Matemática para calcular a média (ou mediana) de todas as nossas suposições e encontrar, se tivermos em conta a sabedoria das multidões, a mais certeira.
Numa semana em que se ficou a conhecer que a UNESCO tolera a construção da Barragem do Tua muitos se levantaram afirmando que esta organização atropelou o interesse público e apenas fez um favor ao poder económico. Outra machadada no interesse público tinha-se verificado no início da semana anterior quando o tribunal de Mirandela recusou esse motivo para a saída do helicóptero do INEM da cidade de Macedo de Cavaleiros. Estes são dois casos em que o interesse público, o interesse na Nação, foi espezinhado e abandonado. E eu digo: que bom!
A expressão interesse público sempre me fez comichão. Como é que se avalia o interesse público no caso de um helicóptero que pode salvar uma vida? Como é que alguém que está em Lisboa/Porto/Faro consegue avaliar o interesse público que as pessoas em Trás-os-Montes (diretamente afetadas) têm numa barragem que lhes vai dar água e electricidade em vez de lhes permitir gozar da companhia de alguns turistas que, uma vez por ano, decidem deslizar de comboio até à região? A verdade é que o interesse público não passa de uma desculpa para defender o interesse de um grupo particular, uma desculpa que procura passar a ideia de que quem é contra é anti-patriota, é um cidadão inferior, é um traidor.
Um dia, um visionário projetou uma barragem para bem do interesse público, a barragem foi construída e hoje, para bem do interesse público, abastece para rega o concelho de Macedo de Cavaleiros, serve de habitat para várias aves migratórias e tem duas praias - uma delas foi considerada uma das 7 praias-maravilha de Portugal - que, para bem do interesse público, chamam turistas e serve os habitantes do Nordeste Transmontano. Aquando do 25 de Abril de 1974, este homem - Eng. Camilo Mendonça - teve de deixar Portugal e "exilou-se voluntariamente" no Brasil, a bem do interesse público...
Quando Nicolau Copérnico apresentou a sua Teoria Heliocêntrica a maior parte das pessoas achou-a um absurdo e não foi de um momento para o outro que passou a ser aceite - aposto que algumas pessoas mais velhas ainda têm dificuldade em aceitar que a Terra se mova e o Sol não - mas é preciso entender que, qualquer teoria/ideia só desaparece quando a última pessoa que acredita nela morre e há sempre uma espécie de guerrilha ideológica que luta por manter viva a sua forma de pensar, por mais minoritária que seja e atenção que eu digo minoritária e não absurda, é por isso que "you cannot kill an idea" (V for Vendetta).
Já o disse em post anterior, o 5 de Outubro, para mim, não é/era mais que um feriado e eu nunca fui de festejar feriados de forma sentida - à excepção do 25 de... Dezembro. Por isso posso-me dar ao luxo de avaliar a importância dos feriados de uma forma lógica, sem preferências ou preconceitos. Raciocinemos então:
Então, seria lógico que o feriado que celebra a Restauração da Independência fosse mais importante que aquele que celebra a Implantação da República e este mais importante que o que comemora a Terceira República. Seria, mas pelos visto não é. Mantém-se o feriado 25 de Abril e retiram-se os outros dois que, no fundo, lhe servem de base. Só encontro duas justificações para isso, a primeira é que as pessoas que fizeram o 25 de Abril ainda estão vivas e não as quiseram matar de um ataque cardíaco, as outras já morreram e não sobrou ninguém para lutar pelos seus respectivos feriados; a segunda é que a relação que se estabelece entre feriados é não transitiva e está definida de outra forma em tudo parecida com o jogo Pedra-Tesoura-Papel em que pedra ganha à tesoura, a tesoura ganha ao papel mas o papel ganha à pedra.
Seja como for, imagino D. João IV e Manuel de Arriaga às voltas no caixão enquanto Mário Soares lhes atira umas caretas...
À medida que os meus 32 anos foram passando, o 5 de Outubro não teve sempre a mesma importância. Posso dizer que na minha infância o 5 de Outubro nada significava e à medida que fui crescendo e ganhando noção do que me rodeava também a consciência do que o 5 de Outubro representa ganhava relevo no meu pensamento político.
Mas não foi nada disso.
E não é que o 5 de Outubro tivesse sempre o mesmo significado ao longo da minha vida. Não! Realmente o 5 de Outubro não teve sempre a mesma importância mas foi porque às vezes coincidia com o fim de semana e não tinha importância nenhuma, às vezes a meio da semana compreendendo-se já a existência do dito feriado e atingia o auge quando preenchia o lugar da segunda ou sexta-feira regalando-nos um prazeroso período de mini-férias.
Não deixo, portanto, de ver alguma ironia no facto de a última(?) vez que o 5 de Outubro é celebrado com um feriado o ser a uma sexta-feira. É como se os governantes nos quisessem torturar requintadamente, lembrando-nos aquilo que vamos realmente perder.
Foi a 5 de Outubro de 1962 que o mundo recebeu no grande ecrã Bond, James Bond e com ele veio a famosa música de John Barry intitulada - para surpresa de todos - James Bond. É simplesmente espectacular!
Parece haver uma tradução musical de tudo o que o personagem Bond transmite nos seus filmes: sofisticação, mistério, sedução e, claro, acção!
Depois deste primeiro tema veio em 63 o From Russia With Love de Matt Monro, em 64 Goldfinger por Shirley Bassey (a minha favorita de todas as que são cantadas), em 65 Tom Jones cantava Thunderball, em 67 surge You Only Live Twice de Nancy Sinatra, até que em 1969 John Barry volta a conceber um tema principal sem vocalista e faz a minha segunda música favorita dos filmes de James Bond: On Her Majesty's Secret Service, uma música que não pode servir de banda sonora a outra profissão que não seja agente secreto; o filme, esse passa completamente ao lado e deve ser o menos memorável de todos.
A década de 70 começa com outra música cantada por Shirley Bassey: Diamonds are Forever (1971). O Beatle Paul McCartney também faz parte da lista de cantores que embelezaram os filmes de Bond com Live and Let Die de 73 e logo no ano seguinte apareceu The Man with the Golden Gun por Lulu...
E é aqui que a coisa descamba... estávamos a chegar aos anos 80, uma década que eu considero maldita na música, as músicas do final de 70 lembram-me o Vitinho e o "Está na hora/da caminha/vamos lá dormiiiir!". A seguir foi Duran Duran, A-ah e uma panóplia de sons típicos dos eighties que até me deixam arrepiado! Foi uma Idade Média (musical) de Bond e parecia que a personagem e a música não estavam sequer relacionados.
Vieram os anos 90 e Tina Turner tirou-nos dessa espiral destrutiva do glamour de 007. Com Goldeneye, voltou a ouvir-se uma voz potente e orquestra e a música voltou a revelar a sofisticação de outros tempos. Mas foi Sol de pouca dura. Depois de Sheryl Crow (Tomorrow Never Dies) e Garbage (The World is Not Enough), ambas inferiores a Goldeneye, eis que surge em 2002 o PIOR TEMA DE SEMPRE de um filme de James Bond: Die Another Day de Madonna. A minha questão é: em que é que os tipos estavam a pensar quando escolheram isto?? Não faz sentido nenhum!!! A partir daqui só podia ser melhor e, embora You Know My Name de Chris Cornell não seja daquelas músicas que eu associo automaticamente aos filmes de Bond, a verdade é que a música encaixa muito bem na história do filme.
Em Quantum of Solace atinge-se mais um mínimo, que me desculpem a Alicia Keys e Jack White (que com toda a certeza estão a ler isto com muita atenção), eu até gosto muito da música Another Way To Die só que seria adequada para a banda sonora de um filme do tipo Triple X ou Velocidade Furiosa com Vin Diesel e não para Bond, James Bond.
Foi preciso aparecer uma cantora como Adele para voltar a sentir que uma música está perfeita para o agente secreto mais famoso de sempre.
Claro que esta é uma opinião e acredito que quem gosta dos anos 80 dê uma volta completa a este texto. Deixem o vosso ranking :D
Já agora, fica uma versão espectacular e invulgar de James Bond: