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2012-O Caleidoscópio da Crise.

por Faust Von Goethe, em 30.12.12

Chegados ao final do ano civil, há que fazer um pequeno balanço sobre a crise do euro-só para não lhe chamar algo pior.

Findado que está este ano, penso que estaremos todos de acordo num ponto fulcral. Governantes e políticos, da direita à esquerda, comentadores e até economistas encartados, recorrem às decisões do tribunal constitucional para suportar ou para criticar as decisões fracturantes dos governos em exercício de funções. Foi assim em Portugal, quando o tribunal constitucional chumbou categoricamente a suspensão dos subsídios de férias; foi assim há dias quando o tribunal constitucional chumbou a taxação de impostos aos mais ricos. Na Alemanha, embora Merkel tenha sido no último ano implacável e irredutível na gestão da crise do euro, não ousou em desafiar o tribunal constitucional alemão. Aliás, só avançou para a criação do fundo de resgate a nível europeu a.k.a. FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira) após a aprovação por parte do tribunal constitucional [alemão].

Embora a Europa viva actualmente um clima de aperto, onde os cidadãos europeus começam a reagir aos poucos, como um todo orgânico-ao ponto de se começarem a interessar vivamente pelo que estava a acontecer nos outros seus países-e embora 2012 tenha sido um ano marcado pela governação tecnocrática, as recentes eleições na europa provaram que a democracia, embora debilitada, ainda funciona. Foi assim na França, onde os franceses não perdoaram o facto de Sarko ter cedido aos caprichos de Merkel. Foi assim na Grécia, um país à beira da ingovernabilidade onde coabita um partido nazi em plena ascenção. E foi também assim em Itália, onde Monti-um verdadeiro tecnocrata no verdadeiro sentido da palavra- não conseguindo levar à avante a sua agenda política, acabou por se demitir, após a aprovação do orçamento de estado para 2013.

Deste ano de 2012 que amanhã finda às 12 badaladas, podemos extrair duas lições sucintas:

  • A carência e o desespero não são bons conselheiros;
  •  Os economistas que aconselham banqueiros e políticos não podem ignorar que acima deles existe um poder, que embora que não seja divino, está acima deles-o poder dos tribunais constitucionais.

No próximo ano será Itália que fará a Europa mexer. Ninguém sabe ainda o que fazer, tendo na mira um eventual regresso de Berlusconi e tendo um Monti que, embora enfraquecido, persiste em levar avante uma agenda austera e reformista. A janela que o liberalismo entreabriu no século XIX para a fomentação da democracia através do exercício parlamentar pode, em pleno século XXI, voltar a fechar-se caso os juízes alinhados politicamente ou dissidentes, usem o tribunal constitucional como panteão da democracia.

Para felicidade de alguns mas para a infelicidade de outros, 2013 será seguramente o ano da democracia constitucional. Em Portugal, embora a justiça esteja aparentemente estabilizada, ainda não encontrou as respostas adequadas e céleres para responder à crise da democracia.

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publicado às 19:36

Memórias da fronteira Franco-Mexicana

por John Wolf, em 25.11.12

Na última viagem que realizei fiquei retido na fronteira Franco-Mexicana. Não tinha os documentos exigidos para transpôr a fronteira e deixei-me ficar. Instalei-me na pensão mais próxima e aguardei o desfecho do processo burocrático. Faltava um visto de turista no meu passaporte caduco. Ao jantar aproveitei para provar as iguarias da região. Mandei vir meia-dose de Soufflé de Pozole, mas antes o garçon de mesa tentou-me com um aperitivo - um Kir Real. Quando chegou a conta, paguei com erros. Agradeci com um semblante indigesto e expliquei de onde vinha. Falei das semelhanças, dos costumes e das particularidades de viver numa zona raiana. É engraçado como o mundo é tão pequeno e como as gentes são tão parecidas. A fronteira Luso-Germânica é famosa pelos seus enchidos e por corridas de touro benzidas a cerveja pelos santos padroeiros. Todos os anos sem falta, claro está - a Festa de Outubro.

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publicado às 15:11

Mundos e Fundos-Estado da Arte da Agenda Crescimento Europeia.

por Faust Von Goethe, em 24.11.12

O debate em torno dos fundos europeus está ao rubro tanto a nível europeu como a nível da imprensa nacional. Os argumentos, esses são os do costume, que vão desde o célebre “são os países mais ricos como França e Alemanha que mais lucram com orçamento comunitário”, passando pelo célebre argumento “não precisamos de tanto dinheiro, precisaremos, isso sim, de o saber gastar”.

Ambos os argumentos, embora aparentemente convincentes, não passam de meros slogans populistas do jornalismo político-económico, pecando por não tocar no problema de fundo, que de modo algum pode ser alienado da discussão subjacente ao orçamento plurianual 2014-2020: reindustrialização como motor de aceleração do crescimento económico.

Uma das principais dificuldades à cabeça das negociações deve-se às diferenças de coordenação entre Zona Euro e União Europeia, o que impossibilita o avanço para uma política orçamental comum. Dada a degradação e consequente fragmentação do entendimento polítíco, tal entendimento não passa de uma utopia. Por outro lado, nos países em dificuldades, como é o caso dos países periféricos, há uma necessidade emergente de se redireccionar de factores produtivos dos sectores de bens não transaccionáveis-como serviços imobiliários-para sectores de bens transaccionáveis-como a produção de automóveis.

Tal estratégia já está incluída no programa de ajustamento Português, e é muito semelhante à famigerada Agenda 2010 germânica [da autoria do governo coligação SPD-Verdes liberado por Gerhard Schroeder]. O ónus de tal ajustamento assenta redução significativa dos custos laborais, na restruturação do tecido produtivo, e na geração de desemprego estrutural. O objectivo base deste ajustamento visa a encolher os sectores que menos contribuem para as exportações.

No entanto, tal modelo não entre em linha de conta com a revolução cibernética dos últimos 5 anos, que vai desde o universo web 2.0 ao mundo emergente dos aparelhos móveis de geração 3G e 4G, cujo contributo para o crescimento em termos de PIB tem ficado muito aquém da revolução dos transportes ou até mesmo da máquina a vapor.  Acresce que, com o envelhecimento da população europeia, a busca de serviços tem-se sobreposto à produção de bens, pelo que o desemprego estrutural-como aquele que está a ser promovido pelas actuais políticas- contribui para a degradação do mercado laboral uma vez que temos simultaneamente jovens e pessoas na idade de pré-reforma (e até mesmo, idosos) à procura de trabalho.

Estes são alguns dos problemas e dilemas que deveriam ser tomados em linha de conta a quando da reprogramação dos fundos europeus assim como do orçamento plurianual para o período 2014-2020.

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publicado às 12:07

Nacionalismos e Saudosismos Parcos Dixit

por Faust Von Goethe, em 10.11.12

 

Na Imagem: Cúpula do Sony Center, Potsdamer Platz, Berlim, tirada por mim durante a minha [primeira] estadia na cidade (Março 2006).

 

A propósito da realização sobre um eventual vídeo do género “O que a Alemanha deve saber sobre Portugal”, já se tinha escrito por estes lados o seguinte:

 

Há ideias que só resultam uma vez. A do vídeo "O que a Finlândia deve saber sobre Portugal" realizado pela Câmara Municipal de Cascais, e posteriormente apresentado nas conferências do Estoril em 2011, é uma delas. Teve a sua originalidade, mas não se livrou de receber uma resposta categórica por parte dos nórdicos.

(…)

Não sei se Marcelo e o próprio Carreiras conhecem bem a mentalidade alemã, de longe muito mais rígida que a mentalidade finlandesa. Por experiência própria, que trabalhei [e ainda trabalho] com alemães, posso assegurar a estes dois senhores da plebe política que Merkel não vem cá em jeito descontraído, como se de férias se tratasse, e muito menos para ir passear com "o bom aluno da troika" para a marina de Cascais.

(…)

Os alemães já costumam ir fins-de-semana e temporadas para Palma de Maiorca, pois têm vôos directos fretados pela Air Berlin, com a vantagem adicional de que estão mais próximos da realeza, evitando assim qualquer contacto directo com tias, tios, assim como ter de frequentar festas "giras" onde só servem rissóis e canapés. Mas pensando melhor, se em vez de rissóis, canapés ou até mesmo um passeio pela marina de Cascais, "oferecermos" a TAP à Lufthansa-em vez da Avianca, claro-talvez ela [e muitos alemães] fiquem a gostar um pouco mais dos Portugueses.

 

Há dias o Jornal de Negócios noticiava ”Fraport voa com Merkel de olhos postos na ANA”;

Hoje o jornal Expresso noticia  “Vídeo de Marcelo recusado pela Alemanha” .

 

Moral da História: Se Marcelo Rebelo de Sousa, o blogger Rodrigo Moita de Deus ou até o pessoal do 31 da Armada tivesse lido o Caleidoscópio, era bem provável que esta “pequena vergonha” pudesse ter sido evitada.

 

Adenda: Se ao invés de Berlim, se tivesse tentado passar o vídeo em Munique (Baviera Alemã), certamente que este seria [muito] bem aceite. E seria por duas razões: 
#1: Ao contrário dos [típicos] Berlinenses, os habitantes de Munique são maioritariamente católicos, tal como os Portugueses.

#2: Enquanto que os habitantes da Baviera Alemã são afáveis, os típicos Berlinenses (i.e. naturais de Berlim) são snobs.

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publicado às 20:52

Crise da Economia Alemã explicada às Crianças

por Faust Von Goethe, em 07.11.12

 

 Suponhamos que a Alemanha é a mercearia do seu bairro (Entenda-se por zona euro). Quando a mercearia abriu (em 2002, quando começou a circular o euro), esta limitou que os clientes do bairro (os PIIGS) apenas se pudessem endividar até 60% daquilo que ganhavam.
A uma determinada altura, a mercearia pensou em expandir o seu negócio, pois queria competir, em termos de vendas (entenda-se exportações) com as grandes superfícies (entenda-se China, Estados Unidos e afins).

Para isso permitiu que os clientes do Bairro se continuassem a endividar-se ano após ano, a solução que arranjou para manter a sua mercearia aberta, passou por pagar do seu bolso aquilo que os seus clientes consumiam.

Ao fim de 6 anos (entenda-se falência do Lehman Brothers), chegou uma hipoteca das finanças (entenda-se violação dos limites de endividamento impostos pelos tratados de adesão) que começaram a por em causa a sustentabilidade da mercearia. Como a mercearia deixou de ter liquidez, então o merceeiro (entenda-se, o governo alemão) começou a tentar cobrar cliente a cliente (entenda-se a grécia, irlanda, portugal, espanha, itália-PIIGS) aquilo que lhe deviam.

Mas os limites de endividamento dos clientes (na ordem dos 120% do PIB) não lhe permitem liquidar a dívida e ao mesmo tempo continuar a fazer compras como faziam até aqui, o que fez com a mercearia ao fim de 3 anos começasse a perder receitas.

Foi mais ou menos assim que a "Crise chegou à economia alemã". É o que dá quando uma mercearia de bairro quer competir com grandes superfícies.

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publicado às 13:27

O(s) dilema(s) da Zona Euro

por Faust Von Goethe, em 02.11.12

 

O problema da zona euro não é de agora.  Já vem de 2001, por altura da adesão da China à Organização Mundial do Comércio.

Com esta abertura do comércio a nível global-ao qual se juntou recentemente a Rússia-abriu as portas a um descontrolo a nível global sem precedentes na história.

O resultado desta desregulação está à vista. O facto de países como a China competirem com o resto do mundo em termos de mão de obra, materiais e ajudas do estado contribuiram para a deslocalização de empresas de países europeus, causa essa que explica em grande parte os valores alarmantes de desemprego na zona euro.

Engane-se portanto quem disser que a crise da zona euro não belisca em nada o governo de Berlim. Muito pelo contrário. Mas resolver parte do problema implica uma mudança de profunda do paradigma por parte da [economia] Alemã, que para além de ser a economia mais competitiva dentro da zona euro, é aquela que tem um maior número de relações comerciais com a China. 
Acresce que, ao contrário do que se noticia em grande parte da imprensa, a banca alemã está profundamente debilitada, por ter emprestado dinheiro a países como Espanha antes do estalar da crise dos subprimes. Esta última "crise" veio apenas contribuir para que este problema se agravasse em larga escala.

Todos sabiam portanto que havia sérios riscos de falência a nível global. Só não sabiam o quanto essa falência poderia por em causa o “estado social”.  Esta é uma entre várias razões porque a Alemanha nunca irá aceitar fazer parte de reestruturações de dívidas a países intervencionados como Portugal e Grécia mas estará disponível para recapitalizar, se necessário, a banca Irlandesa [e até mesmo a banca espanhola]. Eventuais perdões de dívida poderiam conduzir a uma falência de todos os bancos centrais a nível europeu.
O dilema alemão é no fundo o dilema de todos os países da zona euro. E este dilema passa por decidir se estamos dispostos para pagar o preço da ganância, movido em grande parte por hedgefunds e pelo desperdício de recursos da banca europeia para subsidiar a criação de filiais de grandes empresas europeias em países fora da Europa.   

De nada nos vale dizer que o problema é apenas de quem nos governa actualmente. Se fizermos um flashback de 20 anos-altura em que foi assinado o tratado de Maastrich- chegamos à conclusão de que se a nível europeu as coisas tivessem sido encaminhadas numa outra direcção, provavelmente nunca teríamos chegado a este ponto. Mas isso agora é o que menos interessa.
Só há portanto uma via. E essa via passa por se resolver em conjunto este problema. Para isso, políticos, banqueiros e afins terão de assumir as culpas e tentar resolver os problemas no seio da união monetária. O primeiro passo de uma longa caminhada será dado com o início da união bancária.


Adenda: A saída dos periféricos da zona euro custará, em média, 21000 euros a cada alemão. E na situação actual, eles terão [mesmo] de se esforçar. Caso contrário, os fundos de pensão da banca e outras prestações sociais usadas para pagar pensionistas abastados, teria de ser usada. E lá se iria o "estado social" alemão...

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publicado às 21:24

A saída da Alemanha da zona Euro-take 0

por Faust Von Goethe, em 17.10.12

 

Em vésperas de cimeira europeia e numa altura em que os governos dos estados membros da EU se preparam para iniciar a discussão em torno dos orçamentos de estado para 2013, começam a surgir como pano de fundo algumas declarações deveras interessantes, que fazem antever uma mudança de directório e de orientação política a nível europeu. Esta mudança, que vem a ganhar cada vez mais força após a vitória das presidenciais francesas por François Hollande que, num sentido figurado, colocou fim a um governo de Vichy 2.0 [encabeçado pela dupla Merkozy] dando lugar a uma cortina de ferro diplomática entre os países mais ricos do clube Med(iterrâneo)-França,Itália (e por vezes, Espanha)- e os países de rating triple A- Alemanha, Finlândia e Holanda.

Numa altura em que o FMI defende por um lado, que errou e por outro lado, que a austeridade tem de ser mitigada q.b., será pertinente colocar a hipótese da saída da Alemanha [Finlândia e/ou Holanda] da zona euro? Eu diria que é um cenário a ter em cima da mesa. Tentem perceber mais abaixo o porquê...

Caso tenham questões e/ou dúvidas pertinentes, deixem-nas na caixa de comentários.

“Há um perigo real do euro destruir a União Europeia. A forma de escapar a isso é a Alemanha aceitar um compromisso maior entre defender não só os seus interesses mas os interesses dos países devedores e desempenhar o papel da potência hegemónica benevolente” George Soros

"Não é possível, para o bem de todos, impor uma punição perpétua a algumas nações que já fizeram sacrifícios consideráveis se as suas populações não vêem, em momento algum, os resultados dos seus esforços" François Hollande

“O crescimento na Alemanha pode ser estimulado nesta altura com um aumento na procura doméstica mais do que através de qualquer outra coisa” Angela Merkel

Leituras Complementares:

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publicado às 22:39




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