Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ultimamente tenho andado com a vista cansada. Deve ser das lunetas...
A Igreja não deve tocar na indissolubilidade do casamento só porque é comum. Seria como começar a apoiar o aborto só porque está na moda. Pelo contrário, deve abraçá-lo, protegê-lo, dificultar o seu acesso antes de uma profunda reflexão interior dos cônjuges. E talvez até dialogar com o Direito da sociedade no sentido de criar uma nova figura de casamento que não se possa desfazer legalmente. Porque casar não é namorar e antes de se andar a brincar às casinhas, as pessoas devem ter a consciência da enorme responsabilidade que é formar uma Família.
Sempre tive animais de estimação em casa. São uma óptima companhia e camaradas que tornam o caminho mais plano e suportável. Também por isso, temos obrigação de os tratar dignamente. Não faz sentido outro tipo de comportamento. Mas numa sociedade egocêntrica e com indivíduos cada vez mais solitários, os exageros deixam de ser meras excepções. Devemos proteger e respeitar os animais, a natureza e o sistema ecológico que nos rodeia. Mas daqui ao extremismo absurdo do que nos rodeia, é caso para sublinhar que se calhar vivemos mesmo numa nova Idade Média do pensamento e do comportamento humano.
O que me surpreende é que, mesmo não acreditando na alma, o ser humano não pode ser cientificamente comparado a um animal. Aliás, nunca entenderei as pessoas que devotam a vida a proteger animais quando há seres humanos a morrer devido à ignorância e maldade; nunca entenderei quem compra comida gourmet para animais de estimação quando há crianças a morrer à fome ao nosso lado.
Posso compreender a pobreza de espírito que exalta o animal como novo deus, posso ter compaixão das pessoas que substituem o animal de estimação pelo companheiro ou filho que não têm a coragem de ter. Mas há um grande atestado de estupidez em formalizar a nova ideologia corrente que eleva o animal e teima em diminuir o ser humano na mesma proporção. Há uma coisa que um cão, ou qualquer outro animal, tem e que nós andamos a perder: o instinto de sobrevivência e de preservação da espécie.
Ser católico, mais do que convicção profunda, faz parte das minhas raízes, formação e até cultura. Ter crenças profundas e tradicionais é cada vez mais difícil, num mundo relativista onde tudo se compra e vende, onde o facilitismo comanda a vida e o sacrifício é visto como um desvio sem sentido. A maior parte das pessoas acham-se possuidoras de um espírito livre, mas têm medo de estabelecer compromissos ideológicos e estão sempre cingidas a princípios que as oprimem, decepam e restringem.
A busca da felicidade é cada vez mais uma obrigação a que ninguém pode fugir, um alimento inebriante que todos devem consumir, o carro, o telemóvel, o sucesso profissional, a casa, a conquista amorosa, o materialismo selvagem numa época que é a idade média da mente e da liberdade de consciência do ser humano.
Para lá de todo o folclore e das promessas de um futuro sem dor nem rejeição, esse maravilhoso mundo é oco, vazio de sentido e direcção. A verdade é que essa procura paranoica pelo prazer imediato é mais antiga do que o homem e consegue-se ver em qualquer animal irracional sem consciência e inteligência. É demasiado fácil entregarmo-nos às paixões, deixarmos cair o que é duradouro em troca de momentos de prazer. O problema é que essa finalidade impaciente não ganha raízes ou força e alimenta-se da autocomiseração egocêntrica e da superficialidade. Há sempre um momento em que uma pequena voz nos diz para fazer o que está certo e seguir o caminho da coerência e da lealdade. Podemos escolher ouvi-la ou optar sempre pela via mais fácil.